Título: MP vai fechar o cerco contra chefe de gabinete
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2006, Nacional, p. A6

O Ministério Público Estadual já definiu sua estratégia para apertar o cerco a Gilberto Carvalho, que ficou de fora da lista dos indiciados pela CPI dos Bingos. "O relatório da comissão não é vinculativo", declarou o promotor de Justiça Amaro Thomé Filho, que comanda investigação sobre suposto esquema de corrupção no governo Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André seqüestrado e morto à bala em janeiro de 2002. "Não importa se ele (Carvalho)foi indiciado ou não pela CPI, cabe ao Ministério Público definir providências de caráter civil ou criminal."

O promotor disse que não entende o motivo de o assessor de Lula ter sido citado 50 vezes no relatório da CPI e, apesar disso, ser excluído do indiciamento. "Não sei o por quê (da exclusão), mas isso não interfere na atuação do Ministério Público, que é o destinatário natural do relatório da comissão" observou Amaro Thomé.

O Ministério Público suspeita que Carvalho teria agido em parceria com o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil)na arrecadação de recursos em Santo André que teriam sido usados para financiamento de campanhas eleitorais do PT. A base da investigação são os depoimentos de João Francisco e Bruno, irmãos de Celso Daniel. Eles afirmaram ao Ministério Público e à CPI dos Bingos que ouviram de Carvalho, uma semana após a morte de Celso, revelações sobre o desvio de dinheiro sujo de Santo André para o caixa do PT.

O assessor de Lula nega tudo. Seu advogado, o criminalista Luiz Fernando Pacheco, ressalta que Carvalho já depôs diversas vezes, inclusive à CPI dos Bingos, e demonstrou que as acusações contra ele "são absurdas, sem fundamento".

"Ele (Carvalho)parece estar muito mais próximo de Dirceu na captação e receptação desses recursos ilícitos do que da quadrilha que agia em Santo André", destacou o promotor, referindo-se à organização que teria assumido o controle de setores da administração Celso Daniel. O grupo, formado por empresários e políticos locais, responde a processos criminais e ações civis por improbidade na Justiça.

Em abril, Dirceu livrou-se, pelo menos provisoriamente, do cerco da promotoria. Ele foi beneficiado por uma liminar concedida pelo ministro Eros Grau, do Supremo Tribunal Federal (STF), que acolheu reclamação do criminalista José Luiz de Oliveira Lima, defensor do ex-chefe da Casa Civil. Inconformado com o procedimento administrativo criminal que o Ministério Público instaurou, Oliveira Lima recorreu ao STF alegando que a corte máxima da Justiça já havia impedido, em 2002, a promotoria de investigar Dirceu.

O Ministério Público enviou ofício ao STF expondo suas razões para retomar a apuração sobre Dirceu e Carvalho. Os promotores avaliam que o ex-ministro do governo Lula não poderia ter apelado diretamente ao Supremo porque desde que perdeu o mandato de parlamentar não conta mais com a prerrogativa de foro.

Se o STF mantiver a proibição de investigar Dirceu os promotores também já decidiram que vão abrir um procedimento em separado, exclusivamente para apurar o envolvimento de Carvalho. "Vamos aprofundar a investigação quanto à participação (de Carvalho) no esquema de Santo André", observou Amaro Thomé. "Mas para isso temos que primeiro aguardar a decisão final do STF com relação a Dirceu. Esperamos que o Supremo abra os olhos para o Brasil e dê sua contribuição para o combate à criminalidade organizada. O ministro Eros Grau não pode, com toda a experiência que possui, se deixar levar por qualquer tipo de manobra."