Título: UE quer mais flexibilidade dos EUA em Doha
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2006, Economia & Negócios, p. B6

A União Européia espera convencer os Estados Unidos, na reunião bilateral de cúpula de quarta-feira, em Viena, a flexibilizarem sua posição na Organização Mundial do Comércio (OMC), com o objetivo de conseguir o término da Rodada de Doha.

"Esta reunião é uma excelente oportunidade para discutirmos em detalhes a Agenda de Desenvolvimento de Doha", admitiu o comissário europeu para o Comércio, Peter Mandelson, referindo-se às negociações que a OMC fez na capital do Catar, em novembro de 2001. "Sempre apoiei o compromisso do presidente George Bush em favor de uma rodada ambiciosa", acrescentou Mandelson, que acompanhará o presidente da UE, José Manuel Durão Barroso, a Viena.

Dia 15 último, Bush afirmou que os EUA estão dispostos a adotar "decisões duras" em relação aos europeus e aos países emergentes que formam o G-20. Mas os europeus sabem que neste momento a bola está no campo dos americanos, principalmente no que diz respeito às questões agrícolas.

"O problema dos Estados Unidos é que eles estão querendo pagar muito pouco pelo que esperam receber em troca, e eles precisam mudar para desbloquear o acordo", disse Mandelson.

Os americanos sugerem reduzir drasticamente suas tarifas agrícolas, mas querem manter o seu grande volume de subsídios aos seus agricultores, o que é inaceitável para o G-20 e para a UE. Segundo Mandelson, para haver progresso nas negociações "as economias emergentes precisam fazer ofertas realistas e eficazes para reduzir a taxação sobre os produtos industriais. Mas vamos esperar os Estados Unidos e a União Européia fazerem ofertas mais apropriadas quanto aos produtos agrícolas".

Mandelson lembrou que a UE, que se comprometeu a suprimir as subvenções às exportações agrícolas até 2013, está disposta a fazer concessões quanto ao acesso ao seu próprio mercado, embora exija contrapartidas.

Sobre a redução das tarifas agrícolas e quanto ao volume e à escolha dos produtos sensíveis que seriam parcialmente isentos, a UE estaria disposta a se aproximar dos números apresentados pelo G-20, segundo fontes européias, desde que haja avanços reais na questão das tarifas industriais e dos serviços.

"Mas é preciso saber se os americanos estão dispostos a negociar ou se continuarão insistindo no 'pegar ou largar' ", comentou uma fonte da OMC.

Sem nenhuma publicidade, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, foi no início do mês a Washington. Ele se reuniu com dirigentes americanos e com o representante dos EUA para o Comércio e figuras importantes da área comercial dos partidos republicano e democrata. O objetivo de Lamy foi mostrar aos americanos "a realidade dos fatos pela visão de Genebra", no momento em que os EUA preparam a sua agenda para o encontro de Viena.

Os principais participantes da Rodada de Doha irão se reunir em Genebra, dia 29, para tentar encontrar, com atraso, um acordo sobre o marco detalhado das negociações dos capítulos-chave da questão: a agricultura e as tarifas sobre importações industriais.