Título: Brasileiro rejeita Chávez, mostra pesquisa
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2006, Nacional, p. A9

Apenas 1 em cada 7 eleitores brasileiros tem uma visão positiva do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. A informação consta de um levantamento inédito do Instituto Ipsos Public Affairs, que apurou humores e opiniões do eleitorado no Brasil, na Bolívia e no Peru, comparando chefes de Estado classificados como populistas. O saldo são lições úteis sobre homens e idéias. A primeira delas é revelar uma verdade - o imenso prestígio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos países vizinhos - e confirmar aquilo que eleitores de vários países do Continente já descobriram. Até agora os petrodólares não têm octanagem suficiente para transformar Chávez num caudilho de prestígio internacional.

Num caso único entre os colegas pesquisados, Lula é visto de modo positivo por 48% dos peruanos e 55% dos bolivianos (e 67% dos brasileiros). Recém-chegado ao posto, o presidente da Bolívia, Evo Morales, é visto de forma positiva por 77% dos bolivianos, 25% dos brasileiros e 28% dos peruanos. Os eleitores que têm uma visão positiva de Chávez são 14% no Brasil, 18% no Peru e 50% na Bolívia. George W. Bush é visto de forma positiva por 39% dos peruanos, 19% dos bolivianos e 16% dos brasileiros.

O levantamento indica que a minoria dos eleitores gostaria que seus governos adotassem o "caminho" de Chávez na Venezuela:17% dos brasileiros, 10% dos peruanos e 26% dos bolivianos. Mas a maioria apóia medidas de cunho estatizante e intervencionista. Num quadro que se repete nos países vizinhos, mais de 60% dos brasileiros defendem a nacionalização dos recursos naturais,74% querem o controle das multinacionais, 78% defendem o controle de preço dos serviços bancários e 81%, o dos preços da cesta básica.

Em conjunto, os números mostram que há uma correspondência entre os valores políticos da população e a ação de seus governos. Em separado, revelam diferenças notáveis de um país para outro, como entre Lula e Chávez. O venezuelano é adversário declarado do governo dos EUA, ao contrário de Lula, entre outras distinções.

Para Clifford Young, coordenador da pesquisa, "não há uma tendência política única no Continente". Há "um nacionalismo muito forte na Bolívia, e uma postura a favor de intervenção maior do Estado no Brasil. Já no Peru, existe uma sociedade quase liberal, que apóia a economia de mercado". São diferenças compreensíveis. No Peru, as reformas privatizantes de Alberto Fujimori fizeram a economia crescer. A Bolívia, pioneira na adoção de medidas liberais, não saiu do atoleiro econômico. Já os brasileiros, segundo Young, são pragmáticos. "Apóiam idéias de intervenção do Estado, desde que elas funcionem."