Título: Abbas: referendo será 26 de julho
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2006, Internacional, p. A11

Palestinos decidirão sobre plano que, se aprovado, implicará a aceitação de Israel; Hamas defende o boicote

O presidente palestino, Mahmud Abbas, - líder do partido Fatah - baixou ontem decreto convocando para 26 de julho um referendo sobre um plano que reconhece implicitamente a existência de Israel. "Como presidente do Comitê Executivo da Organização de Libertação da Palestina (OLP) e presidente da Autoridade Palestina decidi exercitar meu direito constitucional e obrigação de realizar um referendo sobre um documento de acordo nacional", diz Abbas no decreto.

O grupo radical islâmico Hamas, que desde março controla o Executivo, qualificou o anúncio de Abbas de golpe contra o governo e pediu à população que boicote o referendo. O comunicado de Abbas, já programado no início da semana, coincidiu com um momento especialmente tenso em Gaza: na sexta-feira um ataque do Exército de Israel matou 7 pessoas da mesma família e feriu mais de 30 que faziam piquenique numa praia. Horas depois da matança, o Hamas anunciou o fim de seu compromisso com uma trégua nos ataques contra israelenses, mantido havia 16 meses.

Ontem mesmo o Hamas voltou a lançar foguetes contra Israel - algo que nos últimos meses apenas a extremista Jihad Islâmica e dissidências da Fatah vinham fazendo. Os projéteis caíram em áreas despovoadas.

A Fatah e o Hamas são duas correntes antagônicas da causa palestina. A Fatah, facção laica nacionalista que forma a base da OLP, assinou em 1993 os acordos de paz com Israel e busca criar a Palestina na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental (a parte árabe da cidade) - territórios ocupados pelos israelenses em 1967. O Hamas não integra a OLP, não aceita a existência de Israel e tem como meta criar um Estado islâmico na maior parte da Palestina histórica, o que englobaria os territórios ocupados e todo Israel.

Ontem, em Gaza, milhares de pessoas acompanharam o funeral da família Ghalya. O Exército de Israel se desculpou pelo ataque e abriu investigação.