Título: Para PF, Silvinho quis pressionar PT
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2006, Nacional, p. A7

Em depoimento, ex-petista minimiza seu papel na indicação de cargos e diz que era um "mero tarefeiro"

A Polícia Federal avalia que, ao dar a entrevista que reaqueceu o escândalo do mensalão, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, o Silvinho, tinha o objetivo de pressionar os antigos companheiros de partido, pelos quais se sente abandonado. Um dia depois de prestar um depoimento confuso à CPI dos Bingos, o ex-petista foi ouvido ontem pela PF e pelo Ministério Público, onde mais uma vez apresentou explicações contraditórias sobre a reportagem, numa atitude aparentemente deliberada para atrapalhar as investigações.

A exemplo do que fizera na véspera na CPI, Silvinho disse que estava deprimido e abalado quando deu a entrevista, realizada por uma repórter do jornal O Globo. Ele reclamou por não ter sido convidado pelos petistas para participar do Encontro Nacional do partido realizado há duas semanas e por não ter sido sequer mencionado pelos atuais dirigentes da legenda durante o evento.

A interpretação dos policiais é de que Silvinho se ressente por não estar recebendo do PT a proteção que esperava. O ex-dirigente se desfiliou do partido no auge da crise do mensalão, quando foi descoberto que ele ganhara um jipe Land Rover de uma empreiteira fornecedora da Petrobrás. Agora cobra do PT uma indenização pelos anos em que trabalhou na sigla.

Na entrevista, Silvinho revelou detalhes de um esquema montado pelo empresário Marcos Valério para arrecadar de forma irregular R$ 1 bilhão em favor do PT. No depoimento de ontem à Polícia Federal, o ex-secretário-geral admitiu que, "em tese", fez mesmo tal afirmação, mas baseado em uma nota que imaginava ter lido na revista Veja.

A estratégia de Silvinho é se caracterizar como alguém que dedicou a vida ao PT, mas nunca teve grande poder no partido. À saída de seu depoimento à PF, o ex-petista não quis dar entrevista, mas seu advogado, Iberê Bandeira de Melo, afirmou que seu cliente desempenhava o papel de "mero tarefeiro" dos verdadeiros comandantes da legenda.

Apesar disso, o advogado confirmou que Silvinho admitira aos policiais que, no começo do governo Lula, gerenciava um banco de dados com os nomes de todos petistas candidatos a cargos públicos. A versão é a de que o ex-dirigente do PT fazia apenas a triagem dos currículos, deixando a definição das nomeações para ministros e presidentes de estatais.

Silvinho revelou, ainda, que mais tarde realizou o mesmo trabalho em relação aos indicados pelos partidos da base aliada. O ex-petista afirmou que nunca exerceu influência sobre os nomeados.

A PF quis saber se no R$ 1 bilhão citado na entrevista estavam embutidos recursos desviados de contratos firmados com os Correios. Silvinho disse não saber e negou ter atuado como padrinho de empresas privadas que faziam negócios com a estatal, como a HHP e a Skymaster, das quais é apontado como lobista.