Título: O lado bom das importações
Autor: Celso Ming
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2006, Economia & Negócios, p. B2

A maior parte das reações ao aumento das importações verificado nos cinco primeiros meses do ano veio com um viés negativo, como se tratasse de um novo problema grave da economia ou como se as exportações estivessem em queda vertical e as importações crescendo a galope. Tudo, é claro, por culpa do câmbio desfavorável.

Antes de mais nada, é preciso ter uma idéia das proporções. Do início de janeiro ao final de maio, as exportações somaram US$ 49,5 bilhões e as importações, US$ 34,0 bilhões. Isso significa que as exportações não só continuam muito mais altas (45,6%) do que as importações, mas também que continuam crescendo (13%) sobre os cinco primeiros meses de 2005.

O que há é que as importações estão avançando mais (17%), mas, ainda assim, não em ritmo forte o suficiente para impedir que em 2006 o País obtenha um enorme superávit comercial (diferença entre exportações e importações).

No ano passado, o superávit comercial foi de US$ 44,7 bilhões. Para este ano, as projeções apontadas na Pesquisa Focus do Banco Central são de um superávit comercial de US$ 40,5 bilhões, ainda alto demais para quem pretende a desvalorização do real.

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan, vive repetindo que nada justifica um superávit comercial tão elevado. Com isso, ele não está dizendo que as exportações deveriam ser mais fracas. Está dizendo que as importações é que têm de crescer para reequilibrar o câmbio. Então, se as exportações continuam crescendo, mas as importações crescem mais, isso deve ser entendido como fato positivo e não como sinal de fraqueza da economia. É melhor um superávit zero com exportações e importações da ordem de US$ 250 bilhões ao ano do que esse superávit tão elástico com exportações de US$ 135 bilhões, como é o que podemos ter este ano.

E aí já estamos voltando à questão cambial. O principal fator que está afundando a cotação do dólar não são os juros altos, mas a exuberância exportadora do Brasil, pelo terceiro ano consecutivo, que deixa sobra de dólares na praça.

A melhor maneira de aumentar a procura de dólares e, dessa maneira, evitar que prossiga a excessiva valorização do real é permitir que as importações sigam avançando.

O maior crescimento das importações não está sendo obtido pela derrubada das defesas alfandegárias. Reflete o maior avanço do PIB, o que é ótimo.

Nem tampouco a população está se refestelando com bacalhau norueguês, uísque escocês e tranqueiras eletrônicas da China. Nos cinco primeiros meses do ano, as importações de bens de consumo não passaram de 12,5% do total. A maior parte das importações é constituída de matérias-primas mais produtos intermediários (49,4%), máquinas (21,5%) e combustíveis mais petróleo (16,6%).

Isso significa que a indústria está aproveitando o dólar barato não só para importar produtos básicos e, assim, reduzir seus custos, mas também para modernizar-se e aumentar a capacidade de produção.

Enfim, o aumento das importações mostra dois pontos positivos: que o crescimento do PIB apontado na última quarta-feira pelo IBGE é bem mais consistente do que era há alguns anos; e que dá para contar com nova maré de aumento da produtividade da indústria.