Título: Líder convidará Lula para posse da Assembléia e aumentará preço do gás
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2006, Internacional, p. A9

O presidente boliviano, Evo Morales, votou ontem de manhã na região do Chapare, no centro do país, de onde emergiu para a política como líder sindical dos plantadores de coca locais. Depois de depositar seu voto, Evo qualificou o processo de eleição da Assembléia Constituinte como ¿o primeiro capítulo da refundação da Bolívia¿ e afirmou que pretende reforçar os laços com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva - que atravessam turbulência desde a decisão boliviana de nacionalizar as operações de gás natural e petróleo no país. A brasileira Petrobrás foi a empresa mais afetada pela nacionalização.

Evo anunciou que viajará para Caracas na terça-feira, onde participará, como convidado, da reunião do Mercosul que formalizará a entrava da Venezuela no bloco. ¿Já entrei em contato com a chancelaria brasileira para informar que quero conversar com Lula em Caracas¿, disse o líder boliviano. ¿Essa conversa deve ir além das negociações sobre preço de gás (que a Bolívia vem travando com a Petrobrás e o governo brasileiro). O que quero é convidar Lula para estar em Sucre no dia 6 de agosto (quando os membros da Assembléia Constituinte tomam posse).¿ Evo disse que ¿gostaria que Lula e o Brasil estivessem ao nosso lado nesse processo de refundação, de revolução democrática e pacífica, do Estado boliviano¿.

Segundo o presidente boliviano, eleito em dezembro com a promessa de ¿libertar o país de 500 anos de domínio da elite branca¿, a nova Constituição vai proporcionar desenvolvimento ao país e ¿evitar conflitos sociais como os que ocorrem em países vizinhos¿, referindo-se ao Peru e Colômbia.

Evo também prometeu ¿não uma simples reforma agrária, mas uma revolução agrária que dará aos camponeses bolivianos oportunidade de trabalho e subsistência¿. O governo boliviano promete apresentar seu plano de reforma agrária em 2 de agosto, quatro dias antes da posse dos representantes da Constituinte.

O projeto ameaça os interesses de cerca de 100 famílias de brasileiros que produzem soja em grandes propriedades no departamento de Santa Cruz de la Sierra. É quase certo que as terras de estrangeiros localizadas a menos de 50 quilômetros da faixa de fronteira com o Brasil serão expropriadas. A atual Constituição boliviana não permite que estrangeiros tenham propriedades na faixa de fronteira e é pouco provável que a nova Carta modifique essa lei.