Título: 'Não estou a fim de pagar o valerioduto'
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2006, Nacional, p. A8
Petista doa boa parte do seu salário para o MST e outros movimentos, mas só deu R$ 353 para ajudar o PT a arrecadar fundos
O deputado Adão Pretto (PT-RS) doa uma boa parte de seu salário para o Movimento dos Sem-Terra (MST) e manda que os funcionários de seu gabinete façam o mesmo. No entanto, figura entre os que fizeram as menores contribuições para a campanha de arrecadação de fundos de seu partido. "Não estou a fim de pagar as contas do valerioduto", justifica nesta entrevista.
Por que o senhor contribuiu com apenas R$ 353,04 para a campanha de emergência de arrecadação de recursos do partido?
Não estou a fim de pagar as contas do valerioduto. Votei pela cassação de todos os companheiros envolvidos nisso.
O senhor não teme ser cobrado pelo PT, por ter contribuído com pouco mais de R$ 300, apenas?
Não. Estou com as finanças em dia. Tem muito deputado e senador devendo o mundo para o partido.
Quanto o senhor paga mensalmente de contribuição para o PT?
Eu pago 27%, cerca de R$ 2,7 mil, do salário líquido de R$ 10 mil. O desconto é feito diretamente na folha.
O senhor contribui também com outras entidades?
Dou mais de R$ 3,5 mil mensalmente para o MST. Também ajudo outros movimentos populares. Ao todo, do meu gabinete saem R$ 15 mil para os movimentos.
Como? O senhor só recebe de salário R$ 10 mil líquidos, e boa parte vai para o PT.
Todos os meus funcionários no gabinete são obrigados a dar uma parte de seus salários para as entidades populares. O mandato de deputado não é meu. É do movimento. Os funcionários não trabalham para mim, mas para os movimentos populares.
Quanto sobra para o senhor?
Uns R$ 2 mil e poucos.
Quantos filhos o senhor tem?
Nove.
E esse dinheiro dá?
Dá. Está todo mundo grande, se virando. Não tem problema porque outras despesas, como combustíveis, são pagas pela verba de gabinete. E eu tenho assessores que vivem com menos de R$ 500. Passo bem com meus R$ 2 mil.