Título: R$ 2 bi em obras: Kassab mira 2008
Autor: Bruno Paes Manso
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2006, Metrópole, p. C1

Desde que assumiu a Prefeitura, há três meses, a pergunta mais ouvida pelo prefeito Gilberto Kassab (PFL) é: "O senhor não pretende impor uma marca pessoal à administração?" Kassab, em seu tom monocórdio, já se cansou de responder o que ninguém acredita. Ele garante que não é personalista e define seu governo como "a gestão PSDB/PFL". O despretensioso papel de gerentão e a alta fidelidade ao ex-prefeito José Serra, contudo, podem ser sua tacada de mestre.

As principais metas da gestão já estão traçadas, com um pacote de obras que deve consumir cerca de R$ 1,9 bilhão. A eleição de Serra para o governo é tida como fundamental para as obras saírem do papel. Está previsto cerca de R$ 1,7 bilhão dos cofres estaduais para parcerias. Caso as obras saiam do papel, com a ajuda de Serra, Kassab poderá ganhar fama e votos em 2008.

Estão previstas quatro grandes obras viárias: o corredor Expresso Tiradentes - 31 quilômetros de linha do centro até a zona leste sobre a estrutura do antigo Fura-Fila - começa a ser entregue já este ano. Outras três obras essenciais na estrutura da cidade estão nos planos: o prolongamento da Avenida Roberto Marinho até a Rodovia Imigrantes, a continuação da Jacu-Pêssego até a Rodovia Ayrton Senna e a criação de duas faixas extras na Avenida Bandeirantes.

Para a saúde, a entrega dos hospitais Cidade Tiradentes, na zona leste, em agosto, e M'Boi Mirim, no ano que vem, além das 50 unidades de Atendimento Médico Ambulatoriais (Amas) deve melhorar o setor. Na educação, a aposta é em cinco Centros Educacionais Unificados (CEUs), na ampliação do pós-escola para crianças poderem fazer cursos extras depois das aulas e na eliminação dos três turnos de três horas e meia nos colégios. "É natural que não me conheçam agora, afinal, não participei da campanha. Mas o tempo vai mostrar qual é a minha marca", afirma o prefeito.

Para completar o programa, dois grandes projetos já começam a ganhar a cara de Kassab. A batalha contra a poluição visual, projeto de lei que promete tolerância zero aos anúncios nas ruas, e a ampliação do Centro de Convenções do Anhembi até o Campo de Marte, na zona norte - um dos que mais entusiasmam o atual prefeito.

Para alcançar esses objetivos, porém, ele depende do dinheiro de parcerias. Do R$ 1,5 bilhão que a Prefeitura tem anualmente no orçamento para investir, 90% vem dos governos estadual e federal e de parceiros privados.

Para não melindrar ninguém, a postura de político humilde soa estratégica. Na quarta-feira, em um evento em Heliópolis, maior favela da cidade, Kassab assinou a liberação de R$ 1,7 milhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para operações de microcrédito na região. Foi anunciar o feito na rádio comunitária. Em vez de enfatizar os esforços da Prefeitura, iniciou a fala agradecendo o empenho de Élvio Gaspar, diretor da área social do banco. "É preciso reconhecer o esforço dessas pessoas, para que trabalhem com mais vontade."

Com os políticos mais influentes, o prefeito também prefere o afago à rixa. A postura acarreta a fama de liderança sem personalidade, mas rende frutos administrativos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vem trocando afagos públicos com o governador Cláudio Lembo (PFL), já mandou ao prefeito recados de que vê com entusiasmo seu projeto de ampliação do Anhembi até o Campo de Marte. Com fama de devagar, consegue fugir das rixas violentas nos bastidores do poder.