Título: Dois povos e duas visões
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2006, Internacional, p. A13

Os termos usados já refletem o abismo entre os pontos de vista em relação à situação difícil do cabo Gilad Shalit. Para os israelenses, o soldado foi seqüestrado por terroristas palestinos e é um refém da mesma forma como são os estrangeiros detidos no Iraque.

Para os palestinos, é um prisioneiro de guerra - um alvo legítimo como um soldado uniformizado de um Exército que já matou dezenas de civis na Faixa de Gaza nas últimas semanas - e também uma "moeda de troca".

Na cidade da Gaza de Beit Hanoun, onde os militares israelenses despejaram folhetos na noite de quarta-feira avisando os 42 mil moradores que estava prestes a acontecer um ataque e que eles se abrigassem, a população está perplexa em ver até que ponto os israelenses podem ir por causa de um único homem. "Será que os israelenses entendem quantos palestinos estão nas suas prisões apenas por resistirem à ocupação"? perguntou Khalil Naim, de 60 anos.

Em Israel, a reação foi imediata. Quando o cabo foi capturado e levado para o labirinto dos campos de refugiados de Gaza, seu destino atingiu o centro nervoso de uma sociedade onde a posição dos militares é quase mística.

Quase todos os homens e uma grande parte de mulheres são recrutados e ficam na reserva por muitos anos.

Pesquisas de opinião mostram regularmente que a instituição militar é de longe a que inspira mais confiança na sociedade israelense.