Título: Lula: 'Perspectiva é time dar uma goleada'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2006, Nacional, p. A6

O país vive em "total estabilidade econômica", a dívida pública de R$ 1 trilhão "não é problema" por ser uma "dívida tranqüila", e não é preciso fazer reforma da Previdência. A reforma tributária já foi feita, e o que falta votar é um problema do Congresso e dos governadores que "querem manter a guerra fiscal acesa neste País". A meta do superávit primário será mantida, e nada precisa ser mudado, pois o governo do PT promoveu "uma grande revolução macroenômica".

Esse retrato cor-de-rosa do País foi pintado ontem pelo presidente e candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista à rádio CBN. Lula admitiu que a equipe de campanha ainda não concluiu um plano de governo para um eventual segundo mandato, não respondeu objetivamente às perguntas do âncora Heródoto Barbeiro sobre os problemas mais graves do País - como o rombo de quase R$ 40 bilhões na Previdência - e se alongou em relatos de histórias e explicações que embaralharam números. "O dado concreto é que os partidos da minha base estão trabalhando o plano de governo", disse.

Na única pergunta sobre corrupção, o presidente afirmou que a Operação Sanguessuga - que apura o envolvimento de 90 parlamentares em fraudes na compra de ambulâncias - foi deflagrada a partir de investigação "silenciosa" da Controladoria-Geral da União (CGU). "É importante a sociedade saber que essas coisas estão vindo a público porque o governo federal resolveu fiscalizar, e vamos fiscalizar muito mais", afirmou.

"Isso (a investigação) não começou no Congresso, foi o governo por meio da CGU que fez a primeira denúncia." O presidente disse que a investigação não foi anunciada porque o sigilo evitou espantar os "pássaros". "Quando tem manchete de jornal, os pássaros fazem uma revoada", acrescentou. "Temos de fazer como a polícia moderna faz, sigilosamente, para pegar a ninhada inteira." Ele destacou que houve um aumento de 34% no efetivo da Polícia Federal, o que possibilitaria o aumento das investigações.

O petista citou como eixos da campanha dele as bases macroeconômicas, a educação e uma "forte" política de inclusão social. Repetiu que o momento é o mais positivo na história econômica do Brasil. Na avaliação do presidente, o Produto Interno Bruto (PIB) pode crescer à taxa de 6% - estimativa que o Ministério da Fazenda prevê ser alcançada só em 2010.

Espirro

Para realçar a declarada tranquilidade macroenômica, Lula disse que quando os EUA espirravam, "nós" pegávamos pneumonia, tamanha a dependência econômica. "Hoje, os EUA espirram, e nós falamos: 'Saúde'".

Mantendo a estratégia eleitoral de fazer comparações com o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e de reforçar a versão do PT sobre a administração tucana, o presidente-candidato disse que um possível segundo mandato dele se diferenciará da reeleição de FHC, em 1998, porque o país não será surpreendido com mudanças no câmbio.

Lula disse que o momento é outro, com mais estabilidade. "Em 1998, quando o presidente foi reeleito, ele foi pego de surpresa por uma guinada no mercado que mudou o câmbio", afirmou, lembrando a desvalorização cambial de janeiro de 1999. "Não vamos correr risco, o time está ganhando e a perspectiva é dar uma goleada".

O presidente disse que o déficit da Previdência "é real, ele existe", mas foi um "déficit programado" pela Constituição de 1988, quando foram incluídos 6 milhões de trabalhadores rurais no sistema e foi criada a política de assistência social aos idosos (Loas).

Diante da pergunta se iria propor uma nova reforma da Previdência, Lula fugiu do compromisso. Disse que o problema é do Tesouro e que o déficit é provocado por uma política que pode ser encarada como "política de distribuição de renda". Encerrou dizendo que os governos precisam fazer reformas previdenciárias num prazo entre "15 e 20 anos". Ressuscitando velho discurso petista, disse que parte do déficit da Previdência foi gerado pelo uso do dinheiro das contribuições na "construção de Brasília, da Transamazônica e da Rio-Niterói".