Título: Biscaia anuncia notificação de mais 4 parlamentares e racha CPI
Autor: Eugênia Lopes e Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2006, Nacional, p. A4

O relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) que aponta o nome de mais quatro parlamentares cujas emendas ao Orçamento da União beneficiaram empresas do esquema de venda de ambulâncias superfaturadas para prefeituras criou um racha na CPI dos Sanguessugas. Ontem, o presidente da comissão, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), chegou a anunciar que notificaria os deputados Aroldo Cedraz (PFL-BA), Márcio Reinaldo Moreira (PP-MG), Arolde de Oliveira (PFL-RJ) e João Almeida (PSDB-BA). O declaração provocou a imediata reação de outros parlamentares da comissão, que viram na decisão uma jogada política do governo para tentar atingir nomes da oposição. O deputado João Almeida, por exemplo, é um dos principais escudeiros do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin. Cedraz e Oliveira pertencem ao PFL, partido aliado do PSDB.

Alarmado com o documento da CGU, o sub-relator de sistematização da CPI, Carlos Sampaio (PSDB-SP), foi à controladoria para obter detalhes do estudo e retornou, no fim da tarde, declarando-se contra a notificação. ¿Não há elementos contra eles que justifiquem a notificação¿, afirmou o tucano, antecipando que apresentaria sua posição a Biscaia. Segundo Sampaio, a CGU fez apenas um estudo estatístico e não há indícios de irregularidades nas emendas.

Os novos nomes surgiram na relação divulgada pela CGU, que fez um balanço dos deputados campeões na apresentação de emendas que beneficiaram a máfia dos sanguessugas entre 2000 e 2004. Os quatro deputados, que antes não estavam na mira da CPI, são apontados nesse relatório com um total de 16 emendas. O tucano João Almeida aparece com oito emendas em 2001-2002; Arolde de Oliveira, com duas, em 2002; Aroldo Cedraz e Márcio Moreira, com três emendas cada um.

ELEMENTOS Nenhum dos quatro novos nomes é citado no depoimento do empresário Luiz Antônio Vedoin, sócio da Planam, ou em planilhas de sua empresa indicativas de pagamento de propina, mas dois deles surgem em documentos apreendidos pela Polícia Federal em poder da CPI, aos quais o Estado teve acesso. O nome de Aroldo Cedraz está em pelo menos quatro documentos arquivados nos computadores da Planam e indicam que integrantes do esquema mantiveram algum contato com ele.

Em dois documentos, constam nomes, e-mails e telefones de contato relacionados aos municípios de Planaltina, Planalto, Novo Mundo e Capela do Alto Alegre. Na coluna ¿contato¿, no caso do município de Planalto, consta o telefone do gabinete de Cedraz e o nome Sérgio. De fato, há um funcionário com esse nome lotado no gabinete de Cedraz.

Outro documento é um bilhete possivelmente trocado entre funcionários da Planam: ¿Favor providenciar número de protocolo referente aos seguintes deputados.¿ A lista que se segue inclui Cedraz, Jonival Lucas (PTB-BA), Paulo Magalhães(PFL-BA), Coriolano Sales (PFL-BA) e João Caldas (PL-AL), além de outros dois ex-deputados.

No caso de João Almeida há apenas uma referência genérica em uma planilha de acompanhamento de convênios que relaciona quatro nomes, dois de parlamentares e dois de ex-parlamentares. O nome de João Almeida aparece associado a ônibus e ambulâncias a serem supostamente fornecidos aos municípios de Caravelas, Lapão, Brejões, Curaça e Uaua. Não há indicativo de contatos do esquema com o parlamentar, que nega qualquer relação com a Planam.