Título: Esquenta disputa por rotas da Varig
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

As companhias brasileiras TAM, Gol, BRA e Ocean Air começaram a disputar a concessão definitiva das rotas de vôos internacionais no caso de paralisação das atividades da Varig. Na visão das empresas, essa seria a recompensa pela participação no plano de contingência que está sendo elaborado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para atender os passageiros da Varig que ficarem desassistidos.

Ontem, o diretor de Planejamento de Tráfego da BRA, Waldomiro Silva Júnior, admitiu que o assunto está em discussão, mas relatou que nada ainda está resolvido. Segundo ele, a BRA até aceita que a concessão seja temporária, por seis meses ou até um ano, o que permitiria a recuperação do investimento feito para transportar os clientes da Varig.

"Se eu tiver que voar para um país para buscar um passageiro da Varig, só posso fazer isso se houver mesmo um colapso da empresa, porque eu quero em troca alguma coisa, como toda empresa quer", disse o diretor.

Ele participou de mais uma das reuniões técnicas realizadas desde o início da semana no chamado gabinete de crise, montado no Ministério da Defesa. Silva Júnior disse que foram discussões operacionais do plano de emergência elaborado para suprir os vôos cancelados pela Varig até o fim desta semana.

O plano de contingenciamento é mais amplo que o plano de emergência e só será executado de fato após a paralisação definitiva das atividades da Varig.

O dirigente da BRA revelou que as empresas apresentaram suas "preferências' de destinos internacionais à Anac, responsável por fazer a designação. Essa discussão, disse ele, estaria limitada ao cenário internacional, já que no mercado interno as próprias empresas nacionais organizaram o fluxo de redistribuição nos últimos anos, à medida que a Varig reduzia a sua participação no mercado.

"Pode haver problemas no mercado interno, mas, certamente, serão mais fáceis de resolver", disse o executivo. Silva Júnior acrescentou que as empresas poderão regularizar a situação de vôos internacionais em 48 horas.

Outras fontes, no entanto, relatam que há disputas por linhas internas. Algumas companhias querem que as linhas da Varig de longo alcance, como Porto Alegre-Belém, tenham, obrigatoriamente, uma parada em São Paulo, para que possam pegar mais passageiros e não corram o risco voar abaixo do mínimo rentável.

O diretor da BRA ainda defendeu que, em caso extremo, a Anac faça a redistribuição das rotas "de forma mercadológica". Isso significa que a Anac deveria favorecer o maior número de empresas aéreas possível.

Um leilão dessas rotas, por exemplo, na opinião dele, favoreceria o poder econômico das grandes companhias. "Se for assim, o mercado ficará nas mãos de apenas duas empresas e ninguém mais entra. O consumidor é que será prejudicado", disse, sem citar diretamente TAM e Gol, que hoje lideram o mercado de aviação.