Título: Sucatões prontos para o resgate
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

Diante do agravamento da situação da Varig, o Comando da Aeronáutica determinou que dois Boeings 707 da Força Aérea Brasileira, conhecidos como Sucatões, fiquem prontos para decolar a qualquer momento para buscar passageiros que estejam em qualquer país, com problemas para voltar ao Brasil por causa dos sucessivos cancelamentos de vôos da empresa.

A ordem de partida dos aviões, que têm 160 lugares cada um e autonomia para atravessar o Oceano Atlântico, será dada pelo ministro da Defesa, Waldir Pires, atendendo solicitação do Ministério das Relações Exteriores, que está encarregado de avaliar onde a situação é mais crítica.

Não há data determinada para a decolagem do primeiro 707, mas a expectativa é que isso possa acontecer a partir de hoje à noite, ou sábado, já que, apesar das inúmeras tentativas de tentar salvar a Varig, acredita-se no governo que ela pode começar a entrar em colapso hoje, quando se espera uma decisão do juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8 ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, sobre o futuro da empresa.

Os Sucatões estão estacionados na Base Aérea do Galeão, no Rio.

Embora se acredite que a paralisação dos vôos da Varig seja iminente, resta saber a quem caberia assinar o atestado de óbito da empresa aérea, ônus político que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer assumir a três meses das eleições.

No Palácio do Planalto, há ainda uma grande insatisfação com a forma como a situação vem sendo conduzida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, por exemplo, já chamou para uma conversa o presidente da Agência, Milton Zuanazzi. Há preocupação de que neste processo as duas maiores empresas nacionais, TAM e Gol, tenham sido beneficiadas durante a crise e continuem sendo favorecidas na divisão do espólio da Varig.

As empresas menores, como WebJet, BRA e OceanAir querem ter direito a dividir o que sobrou da Varig apenas entre elas, alegando que a TAM e Gol já foram muito beneficiadas. No Planalto, há quem ache que as pequenas estão certas.

Outra questão sobre a qual o governo ainda reluta a tomar uma atitude efetiva diz respeito aos horários de vôo e aos espaços que a Varig tem nos aeroportos no exterior. Esses locais e horários pertencem à Varig e são um verdadeiro patrimônio da empresa.

Para que outras companhias, ainda que brasileiras, assumam o lugar da Varig é preciso que o governo negocie com as autoridades aeronáuticas dos vários países. Como a Varig é uma concessionária de serviço público, em última instância o patrimônio é do País. Daí o interesse das empresas para que o governo brasileiro interceda nesta questão.