Título: Congo elege primeiro presidente em 40 anos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2006, Internacional, p. A22

Cerca de 25,6 milhões de pessoas estão habilitadas a votar hoje nas primeiras eleições em mais de 40 anos na República Democrática do Congo. Joseph Kabila, que assumiu a presidência do antigo Zaire quando seu pai, Laurent Kabila, foi assassinado em 2001, é considerado o candidato favorito nas históricas eleições, que serão protegidas pela maior missão de pacificação da ONU.

Kabila, de 35 anos, lidera uma lista de 32 candidatos presidenciais, que inclui ex-líderes rebeldes, como Jean-Pierre Bemba, que lutou contra ele e seu pai, e Azarias Ruberwa, atual vice-presidente. Também concorrem dois ex-camaradas do ex-ditador Mobuto Sese Seko, que governou o país de 1965 a 1997: Pierre Pay Pay, que foi ministro de Economia, e Etienne Tshisekedi, que foi primeiro-ministro na ditadura de Mobuto. Se nenhum candidato presidencial obtiver mais de 50% dos votos, um segundo turno será realizado no fim de outubro entre os dois mais votados.

Também serão realizadas eleições parlamentares e 9.700 candidatos disputarão as 500 cadeiras. Em muitas partes do país, principalmente no volátil leste, rebeldes e milícias ainda aterrorizam a população civil, provocando o temor de que a violência perturbe as eleições. Pelo menos 30 pessoas morreram durante a campanha. A missão de pacificação das Nações Unidas, que tem 17 mil soldados no Congo, organizou a segurança e a logística das eleições, as mais complexas e caras já organizadas pela ONU.

As eleições ocorrem quatro anos após o acordo que encerrou cinco anos de guerra civil. Essa guerra envolveu Exércitos de seis países vizinhos e deixou mais de 4 milhões de mortos, tornando-se o conflito com maior número de vítimas desde a 2ª Guerra.

Muitos eleitores acreditam que a eleição trará um novo estilo de governo a um país conhecido apenas por um colonialismo predatório, uma ditadura brutal, guerra civil e sofrimento.

Na sexta-feira, no encerramento da campanha, Kabila disse a milhares de simpatizantes que votassem por uma nova era de paz e desenvolvimento no Congo. Ele se atribui o crédito por levar o país a suas primeiras eleições multipartidárias após quatro décadas de caos.

O Congo elegeu seu primeiro líder em 1960, após sua independência da Bélgica. O eleito foi o primeiro-ministro Patrice Lumumba, um esquerdista que queria expulsar os colonizadores brancos e suas companhias mineradoras. Ele escapou de um complô da CIA para envenená-lo, mas foi assassinado por soldados congoleses.

Em 1965, Mobuto, um oficial do Exército, tomou o poder. Ele obteve apoio internacional ao projetar uma aura pró-Ocidente, enquanto acumulava uma grande fortuna. Em 1996, uma aliança rebelde invadiu o país e o depôs no ano seguinte. Laurent Kabila, pai do atual presidente, assumiu o poder. O não-cumprimento das promessas que Kabila tinha feito a Uganda e Ruanda levou esses dois países a apoiarem em 1998 uma rebelião para depô-lo, mas o governante recebeu o apoio de Zimbábue, Angola e Namíbia, o que transformou o conflito em guerra regional.