Título: Peregrinos do Brasil cancelam ida a Israel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2006, Internacional, p. A8

Peregrinos brasileiros estão cancelando viagens a Israel por causa do conflito entre o país e a guerrilha libanesa Hezbollah. Todos os grupos de cristãos brasileiros que estavam marcados para chegar à Terra Santa na semana que vem desistiram ou adiaram a viagem. Cidades sagradas por onde Jesus Cristo passou na região da Galiléia - como Nazaré, Tiberíades e Capernaum - têm sido alvo dos ataques do Hezbollah.

"Os próprios agentes de viagens israelenses têm aconselhado o cancelamento ou adiamento", disse o guia turístico brasileiro André Wajberg, de 34 anos, que trabalha há anos com peregrinos do Brasil e de Portugal. "Todos os grupos que iriam chegar na semana que vem, cancelaram. E os de daqui a 15 dias estão em compasso de espera."

Segundo Wajberg, os visitantes brasileiros de origem judaica mantiveram os vôos, mas com mudanças de roteiro. Em vez de visitarem a Galiléia e as Colinas do Golan, os turistas vão passar mais tempo no sul do país, em Tel-Aviv e até mesmo em Jerusalém - cidade que era considerada perigosa no auge da segunda intifada palestina, de 2001 a 2003.

Os peregrinos brasileiros não têm sido os únicos a desistirem de visitar Israel. Ainda não há estatísticas sobre o assunto, mas a tendência é certamente de baixa. Ontem, a empresa aérea British Airways informou que houve uma queda de 15% nas reservas de vôos para Israel. Até os pilotos e aeromoças estrangeiros estão com medo. A Air France decidiu que as tripulações de vôos para Tel Aviv pernoitem a partir de agora em Chipre.

Era para ser um dos melhores anos para o turismo israelense. O país esperava receber 3 milhões de visitantes em 2006, número semelhante ao de 2000 o melhor da história do país antes da baixa que quase destruiu o setor durante a intifada. Mas o conflito ameaça as esperanças de recuperação do setor.

Hotéis e albergues no norte do país já estão sentindo o baque. A ocupação no momento é de apenas 10%. Seria menos ainda se não fossem os jornalistas que estão na região para cobrir a guerra. "Esperamos que esse conflito acabe logo. Senão, vai ser um desastre", disse o presidente da Associação Israelense de Hotéis, Eli Gonen.

O ministro do Turismo, Isaac Herzog, já prometeu começar uma ampla campanha publicitária na Europa, Ásia e América Latina assim que o conflito terminar. "Queremos continuar a receber visitantes, de todas as religiões", disse Herzog. "Peço aos brasileiros que não deixem um conflito que não vai durar muito tempo atrapalhar os planos de viagem."

Mas poucos israelenses estão deixando o país para fugir da guerra. Pelo contrário. Estima-se um aumento de 9% no número de cidadãos voltando para casa. Esse foi o caso do casal de brasileiros naturalizados israelenses Bentzi e Raquel Smaletz, donos da agência de viagens Bentzi-Brasil. Em férias nos Estados Unidos, o casal decidiu adiantar a volta para estar perto da filha.