Título: Olmert admite diálogo com Líbano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2006, Internacional, p. A8

Os bombardeios israelenses e os disparos de foguetes do grupo xiita libanês Hezbollah prosseguiram ontem com intensidade, mas pela primeira vez os dois lados abriram caminho ao diálogo. O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, declarou que vê o primeiro-ministro do Líbano, Fuad Siniora, como ¿um parceiro para o diálogo¿. ¿Não estamos em guerra com o povo libanês e não temos nenhuma intenção de prejudicar sua qualidade de vida¿, disse Olmert. ¿O primeiro-ministro Fuad Siniora é um parceiro para o diálogo, e talvez isso seja possível.¿

Seu ministro da Defesa, Amir Peretz, anunciou que Israel aceitaria o envio de uma força multinacional de paz para a fronteira entre o Líbano e Israel, para impedir as operações do Hezbollah na área. Peretz enfatizou que a meta de Israel é ver o Exército do Líbano estacionado ao longo da fronteira.

Ao mesmo tempo, mais soldados israelenses entraram no Líbano ontem à noite e, depois de 48 horas de confrontos com o Hezbollah, o Exército de Israel consolidou a ocupação do vilarejo de Maroun al-Ras, a 3 quilômetros da fronteira. Segundo o diário britânico The Guardian, Israel se prepara para lançar uma ofensiva na região de Tiro, de onde são disparados foguetes contra a cidade israelense de Haifa.

Já o grupo xiita aceitou que o governo libanês - do qual faz parte - lidere as negociações para um acordo pelo qual libertaria os dois soldados israelenses que capturou em troca de Israel soltar presos árabes. O conflito começou depois que o Hezbollah invadiu Israel, no dia 12, para capturar os soldados.

É a primeira vez que o grupo aceita conceder ao governo do Líbano autoridade para negociar troca de presos. Em outras ocasiões, enviados da Alemanha atuaram como mediadores entre Israel e o Hezbollah. No entanto, oficialmente Israel mantém a mesma posição: não libertará prisioneiros e só interromperá os bombardeios e retirará suas tropas de território libanês depois que os soldados forem soltos e o Hezbollah for removido de perto da fronteira. A chanceler Tzipi Livni insistiu que o cessar-fogo terá de ser ¿sem condições¿ , bem como a libertação dos militares.

O comando militar de Israel indicou que a ofensiva deve continuar por mais uma semana ou até 10 dias. Segundo o diário israelense Haaretz, a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice - esperada hoje em Jerusalém - só anunciaria o fim das hostilidades no próximo domingo. Os EUA apóiam a conduta de Israel no Líbano e não pediram um cessar-fogo. Condoleezza se reunirá com Olmert e também com o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas.

O objetivo da diplomacia americana é enfraquecer a Síria e o Irã, países que apóiam e financiam o Hezbollah. O diário americano The New York Times salientou, citando fontes no governo, que a prioridade da Casa Branca é isolar a Síria, pressionando-a de forma a romper seus laços com o Irã - o que dificultaria o envio de armamento para o Hezbollah.

Ontem a Arábia Saudita pediu aos EUA que busquem um cessar-fogo imediato. E pela primeira vez a Síria indicou querer tomar parte nos esforços diplomáticos. Seu ministro da Informação, Mohsen Bilal, declarou a um jornal espanhol que o país quer logo um cessar-fogo e está disposto a participar de negociações diretas com os EUA para ajudar a encerrar a luta entre Israel e o Hezbollah.

Mas só pretende cooperar sob a condição de que sejam negociações amplas de paz para o Oriente Médio (incluindo a questão palestina), pelas quais Israel teria de devolver aos sírios as Colinas do Golan (ocupadas na guerra de 1967). Bilal advertiu que a Síria intervirá no conflito se o Exército de Israel avançar por terra no Líbano, pois ficaria a apenas 20 quilômetros de Damasco, a capital síria. Os EUA rejeitaram a oferta síria de diálogo.

No Líbano, o coordenador de ajuda da ONU, Jan Egeland, afirmou que o bombardeio israelense de um bairro no sul de Beirute onde fica a sede do Hezbollah violou a lei humanitária internacional. ¿É horrendo. Eu não sabia que eram quadras e quadras de casas (destruídas)¿, disse.

Israel anunciou ontem que facilitará a criação de um corredor de ajuda humanitária no Líbano .