Título: Planam fazia road show para oferecer fraude a prefeitos
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2006, Nacional, p. A4

A Planam, empresa que fazia as operações para a máfia dos sanguessugas, montou um esquema de assédio aos prefeitos que mais parecia um bem organizado road show: a operação incluía convites para viagens com todas as despesas pagas, estandes com belas recepcionistas em congressos de municípios e até em festas de peão de boiadeiro. Por trás do espetáculo, os negócios: o objetivo era convencer as prefeituras a aderir à operação e comprar ambulâncias superfaturadas. Os detalhes sobre o assédio foram revelados ontem pelo ex-prefeito da cidade paulista de Itaporanga Pedro Ferraz (PSDB).

Ele diz que passou a ser assediado em 2002, quando conheceu o representante da Planam Sinomar Martins Camargo, no congresso promovido pela Associação Paulista de Municípios (APM) em Serra Negra, interior paulista. Camargo, um dos 81 indiciados pela Polícia Federal por envolvimento no esquema, teve a prisão decretada e está foragido. A Planam tinha levado para mostrar aos prefeitos uma ambulância com UTI e um microônibus adaptado para funcionar como ambulatório odontológico. Na época, Camargo estava se mudando de Cuiabá para Curitiba e o convidou para visitar suas novas instalações. "Quando cheguei, havia 34 prefeitos lá, todos interessados nas ambulâncias."

Segundo Ferraz, a proposta era feita de forma aberta: "A nota fiscal da prefeitura deveria incluir, além do valor do veículo, mais 20% da empresa, 10% para o deputado e outros 10% para o prefeito." O representante da Planam, contou ele ainda, tinha várias listas com nomes dos deputados ligados ao esquema. "Ele disse: 'aqui estão os deputados, você pode escolher qualquer um'." Tudo o que o prefeito tinha de fazer era providenciar duas cartas-convite para cada veículo. A carta-convite é uma forma simples de licitação pela qual a prefeitura convida empresas para apresentar propostas de fornecimento de bens ou serviços até um determinado valor. Na época, o valor máximo era R$ 80 mil. "Quando passava disso, havia dois processos: um para o veículo, outro para os equipamentos."

O ex-prefeito foi a um evento em Brasília, "com tudo pago" pela Planam. "Eles tinham um estande muito grande e havia prefeitos de vários Estados." Ferraz voltou a ter contato com Camargo em outro congresso de prefeitos. "Foi quando eu disse que já havia conseguido as ambulâncias por interferência do deputado Arnaldo Madeira, sem pagar nenhuma comissão." Ele não se lembra do valor exato, mas conta que saiu "muito mais barato". Segundo Ferraz, o empresário ainda o ameaçou. Mais tarde, ele teve de depor num inquérito da PF em Sorocaba, onde contou tudo o que sabia. "Fiquei sabendo que a denúncia partiu dele, Sinomar."