Título: Conseqüências do ataque a Qana
Autor: Eduardo Salgado
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2006, Internacional, p. A11

Por que o ataque é significativo? A morte de tantos civis e crianças no ataque mais sangrento da guerra concentrou a crescente oposição internacional à ofensiva israelense. O ataque foi um tropeço particular para Israel e EUA, seus aliados, no momento em que a secretária de Estado Condoleezza Rice tentava costurar um acordo sobre uma força de paz e um cessar-fogo. O ataque provocou o cancelamento da planejada ida da diplomata a Beirute. Qana foi cenário de um ataque similar em 1996, quando projéteis israelenses atingiram um campo de refugiados da ONU, matando mais de 100 civis - o que fez Israel encerrar sua ofensiva "Vinhas da Ira".

O que Israel fará desta vez?

Israel lamentou as mortes em Qana e investigará o que aconteceu. Logo após o ataque a Qana, o governo israelense prometeu continuar a ofensiva, mas, horas depois, sob pressão internacional, concordou em suspender por 48 horas seus ataques aéreos no sul do Líbano para permitir a investigação e a saída dos residentes da região que quiserem partir.

O que pretende o Hezbollah?

O Hezbollah prometeu retaliar por Qana. O que o Hezbollah pode passar a fazer é usar foguetes de maior alcance do que tem usado até agora, para atingir cidades mais no coração do território israelense. Isso certamente provocará uma resposta israelense mais dura e, possivelmente, um aumento da ofensiva terrestre. Esse desfecho poderia servir aos interesses do Hezbollah no sentido de que arrastaria Israel para uma guerra de guerrilha. Algumas facções de militantes palestinos também prometeram vingança, e isso poderia comprometer mais forças israelenses na tentativa de impedir novos atentados suicidas. O ataque a Qana serve politicamente ao Hezbollah no sentido de que ele revigora a ira contra Israel tanto em casa como no exterior, aumentando a pressão por um cessar-fogo. Se isso acontecer, o Hezbollah seguramente considerará a trégua uma vitória sua.

Como fica a diplomacia?

Fica mal parada. O cancelamento da viagem de Condoleezza a Beirute golpeou as esperanças de que fosse questão de dias um acordo sobre uma força internacional para o sul do Líbano e um cessar-fogo. Na ONU, o objetivo é seguir o trabalho nesse sentido, mas a escalada da violência torna difícil alcançar essas metas. Tanto EUA como Israel querem garantir que qualquer solução leve à retirada do Hezbollah da fronteira e ao desarmamento do grupo.