Título: No Recife, alegria após viagem e preocupação pelos que ficaram
Autor: Adriana Carranca
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2006, Internacional, p. A14

Aliviados por terem conseguido sair do Líbano, fugindo do conflito que envolve o grupo libanês Hezbollah e Israel, 98 passageiros - 85 brasileiros, oito libaneses naturalizados brasileiros e cinco argentinos - fizeram sua primeira escala técnica em solo brasileiro, às 12h40 de ontem no Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife.

O tamanho do alívio era equivalente à preocupação com os amigos e parentes que ficaram no país. "Meu marido e meus primos ainda estão lá", contou Joheina Mankara, angustiada.

Cansados após mais de 30 horas de viagem que incluiu trajeto de ônibus desde Beirute, com passagem pela Síria, até Adana, na Turquia - onde pegaram o avião 707 da Força Aérea Brasileira -, alguns deles contaram do temor e da agonia vivida.

De acordo com os passageiros, a prioridade foi dada aos turistas brasileiros. Eles se encontraram perto de um hotel em Beirute para pegar os três ônibus que levavam grandes bandeiras brasileiras no teto para evitar ataques. Sem exceção, os entrevistados consideraram muito tensa a viagem por terra, de 16 horas. Para o comerciante Zouhair Haidar, de 49 anos, libanês radicado no Brasil desde os cinco anos, a etapa de ônibus foi difícil pela insegurança e pelas crianças que não podiam ouvir barulho e se assustavam.

Haidar contou que acordou às 6h30 da quinta-feira com uma explosão. Ele ocupava um apartamento no bairro Dahe, área muçulmana do Hezbollah, na periferia de Beirute, perto do aeroporto. Foram cinco seguidas. Seus dois filhos, ainda crianças, não perceberam a gravidade da situação. Os pais lhes disseram se tratar de fogos de artifício. "Houve explosão a 400 metros do meu apartamento", disse o comerciante.