Título: 'Não dá para luxo, mas fome não passo'
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2006, Economia, p. B1

O ano eleitoral garantiu um aumento de renda para Carlos Henrique Frazão Leite, que trabalhava como carregador de caminhão em uma rede de supermercados até abril, quando foi demitido.

Com uma filha de 10 meses, ele vinha fazendo bico como cobrador de van, até ser convidado para distribuir panfletos de campanha política. "Quando fui mandado embora, minha filha tinha só quatro meses, passei muita dificuldade. Só de fralda e pomada, gastava uns R$ 70 por mês, além dos R$ 100 do aluguel", diz ele, que tirava "no máximo" R$ 300 por mês com os bicos.

Ainda que temporário, o novo trabalho de Leite lhe garante R$ 100 por semana. "Não dá para luxo, mas fome a gente não passa. Agora vou poder fazer uma festa de aniversário para minha filha", afirma ele, que convidou outros amigos para o serviço.

Um deles, o motorista Geraldo Leonardo Costa, estava desempregado havia um ano e, na semana passada, assumiu a coordenação do grupo de divulgadores da campanha no Largo da Carioca, centro do Rio, com o mesmo salário. "Emprego para quem não teve estudo está muito difícil. Só tem trabalho assim", diz Geraldo, de 26 anos, que tem primeiro grau completo.

O empresário João Franco, dono de uma confecção em São Paulo, conta que precisou demitir oito funcionários este ano. "Vários fatores estão fazendo as empresas demitirem." Ele diz que a concorrência com os produtos chineses e a alta carga tributária e trabalhista foram as razões para o corte em sua empresa. "A pequena empresa é quem emprega no Brasil, mas é a que mais sofre. Devia haver uma revisão nas regras."