Título: Alckmin tenta abafar crise no Ceará
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2006, Nacional, p. A5

O comando político da campanha do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, entrou ontem em ação para abafar a crise do PSDB no Ceará, terra do presidente do partido, senador Tasso Jereissati, e evitar que o problema contamine outros Estados. O diagnóstico do comando é que Alckmin precisa subir nas pesquisas para minimizar esse tipo de percalço.

Depois de desobedecer à direção nacional do PSDB, exibir imagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o elogiar em seu programa de TV, o governador tucano Lúcio Alcântara, que disputa a reeleição, telefonou para o coordenador-executivo da campanha de Alckmin, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), para dar suas explicações. Ele garantiu que continua a apoiar Alckmin.

Uma iniciativa do principal adversário de Alcântara, Cid Gomes (PSB), pode contribuir para amplificar os efeitos do episódio. Ontem, sua coligação entrou na Justiça Eleitoral pedindo punição ao tucano por ter supostamente burlado a regra da verticalização ao mostrar Lula. A legislação exige que as coligações estaduais respeitem as alianças feitas no plano federal - os partidos de Lula (PT) e Alcântara (PSDB) são adversários na eleição presidencial.

A situação do Ceará é mais um exemplo da dificuldade da coligação PSDB-PFL para atrelar a candidatura de Alckmin às eleições estaduais, principalmente no Nordeste, onde Lula está forte e a disputa pelos governos locais é apertada.

Nará, Tasso resistiu à indicação de Alcântara e agora se recusa a pedir votos para o governador. Nesse clima, Alckmin não tenta uma parceiria direta com Alcântara para não entrar em confronto com Tasso. "A fotografia de Alckmin é maior do que a minha no comitê eleitoral", disse Alcântara a Guerra, querendo mostrar sua fidelidade ao ex-governador.

Ontem o comando de campanha decidiu centrar fogo em sete Estados com mais eleitores: São Paulo, Rio, Minas, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco.

O próprio candidato tucano tem tentado minimizar o episódio do Ceará. Ontem, em visita a Resende (RJ), chegou a dizer que o que houve foi apoio de Lula a Alcântara - o que, disse ele, "é muito bom, é muito bem-vindo".

Alckmin participou de homenagem ao ex-presidente Juscelino Kubitschek, ao lado dos candidatos do PSDB aos governos de São Paulo, José Serra, de Minas, Aécio Neves, e do Rio, Eduardo Paes, e da filha de JK, Maristela. Eles depositaram coroas de flores no local onde Juscelino morreu, no km 328 da Via Dutra, em acidente de carro, há 30 anos.