Título: Pacote cambial não é solução mágica, diz Fiesp
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2006, Economia, p. B6

O pacote de medidas cambiais anunciado na quarta-feira pelo governo não vai fazer o dólar disparar, como querem os exportadores. O alerta partiu do presidente da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) e diretor de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca.

"Isso (o pacote cambial) não é solução mágica para levar o dólar para R$ 2,80", afirmou o economista, sublinhando que as medidas não darão resultados no curto prazo.

Em palestra ontem para empresários, promovida pela Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (Amcham-RJ), Giannetti lembrou os quatro principais pontos do pacote, que prevê reduzir em quase US$ 20 bilhões a entrada de dólares do País.

Na teoria, segundo ele, isso favorece a alta na cotação do dólar - o que, por sua vez, beneficiaria a rentabilidade das exportações brasileiras. "Uma das grandes perguntas é se (o pacote cambial) vai ter efeito na taxa de câmbio. Que vai ter algum efeito, vai, mas vai ser levemente marginal", afirmou.

Na avaliação de Giannetti, o pacote não resolve a "disparidade cambial que afeta a rentabilidade das exportações". Para ele, enquanto as taxas de juros no Brasil estiverem elevadas em relação ao mercado internacional, os investidores estrangeiros tenderão a continuar investindo no País, visto que ganhos de seus investimentos serão maiores.

Assim, o fluxo de entrada de dólares no Brasil vai continuar expressivo, cenário que derruba a cotação da moeda norte-americana e afeta, por conseqüência, a rentabilidade das exportações brasileiras.

No evento da Amcham-RJ, o diretor da Fiesp também voltou a comentar o porcentual de dólares que o exportador pode deixar no exterior para pagar compromissos fora do País.

Para ele, com o passar do tempo, pode ocorrer uma flexibilização maior das regras e o empresário poderá deixar até 100% dos recursos obtidos com suas exportação no mercado internacional em dois anos.

Atualmente, há a obrigatoriedade de que todos os recursos obtidos em dólares pelos exportadores precisa voltar ao País em 210 dias.

Isso aumenta os custos do empresário, principalmente em pagamento de CPMF.Com o pacote de medidas cambiais, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definirá o porcentual que poderá ficar no exterior.

Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já adiantou que, inicialmente, esse porcentual será de 30%. "Mas entendemos que esse patamar é inicial e provisório", avaliou Giannetti da Fonseca.