Título: Escândalo põe em choque correntes internas do PT
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2006, Nacional, p. A4

O escândalo dos sanguessugas começou a causar mal-estar no comitê do presidente Lula e já virou motivo de disputa interna entre as várias facções do PT. Na reunião de hoje da coordenação política da campanha, o secretário de Organização do PT, Romênio Pereira, disse que defenderá "tratamento igual" para todos os petistas citados no escândalo pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, um dos donos da Planam.

A disputa ficou evidente depois da informação - confirmada ontem por integrantes da cúpula petista - de que o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), chamou José Airton Cirilo, candidato a deputado federal, para dar explicações sobre a acusação de Vedoin. Aborrecido com a guerra interna, Berzoini negou ter convocado Cirilo. A ordem, agora, é evitar o assunto para não causar desgaste na campanha de Lula.

Antes de saber da nova orientação, Pereira escancarou seu descontentamento. "Acho que a direção do PT deve ouvir todos os acusados, não só o Cirilo. É preciso dar tratamento igual a todos", insistiu ele, que é integrante da corrente Movimento PT, a mesma de Cirilo. A idéia soou como provocação ao ex-Campo Majoritário e foi rechaçada no comitê de Lula.

Francisco Rocha, chefe de gabinete de Berzoini, disse não ver razões para o PT nacional tratar do assunto. "Na minha opinião, as instâncias do partido devem ser respeitadas e tudo tem de começar pelos Estados", alegou Rocha, que trabalhou com o ex-ministro da Saúde Humberto Costa.

Rocha garantiu que Costa, candidato a governador de Pernambuco, não será chamado por Berzoini. "Os adversários querem liquidar a candidatura do Humberto", protestou Rocha, um dos dirigentes da Articulação/Unidade na Luta, a mesma tendência do ex-ministro e do próprio Lula.

Vedoin disse que a indicação de Costa para o ministério estaria na cota de Cirilo na composição do governo. Informou, ainda, que haveria entendimentos entre Cirilo e Costa para liberar dinheiro para a compra de ambulâncias superfaturadas.

Em conversas reservadas, dirigentes do PT afirmaram ontem que o partido não fará caça às bruxas em plena campanha de Lula. "Não é possível levar a disputa interna para dentro da campanha", argumentou um ministro.