Título: Gás terá investimentos de US$ 22 bi
Autor: Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2006, Economia, p. B9

O setor de gás receberá investimentos de US$ 22,1 bilhões até 2011, dos quais US$ 17,6 bilhões virão da Petrobrás e US$ 4,5 bilhões de seus parceiros. Esse valor supera em 71% o previsto anteriormente pela estatal e projeta um aumento de 17% ao ano na produção, de 41 milhões para 70 milhões de metros cúbicos de gás por dia.

Segundo o diretor de Gás e Energia da Petrobrás, Ildo Sauer, a maior parte dos recursos dos parceiros da estatal serão destinados à exploração e produção de gás (US$ 3,9 bilhões), restando US$ 500 milhões para o segmento de gás e energia e mais US$ 100 milhões para a produção internacional de gás natural.

Sauer não informou quais serão esses parceiros e se esquivou de perguntas sobre o andamento da anunciada associação da Petrobrás com a Repsol YPF para o desenvolvimento do campo de gás de Mexilhão, na Bacia de Santos.

Mexilhão era uma das prioridades da Petrobrás, de acordo com o plano estratégico referente ao período de 2006 a 2010, mas o início da sua operação foi adiada do começo de 2008 para fim de 2009. Em seu lugar, tornou-se prioridade o desenvolvimento dos campos de gás não associados, descobertos na região sul do Espírito Santo.

O diretor comentou que essa foi uma estratégia para atender rapidamente à crescente demanda nacional, principalmente depois dos problemas com a Bolívia. Além de aumentar a produção, a Petrobrás vai lançar o edital de licitação da construção e afretamento de duas unidades de regaseificação de GNL, que serão instaladas na Baía de Guanabara (RJ) e em Pecém (CE).

Segundo Sauer, as duas encomendas já estão sendo discutidas com os interessados a fim de moldar o edital para que haja maior concorrência. Os participantes deverão adaptar navios gaseiros, que hoje já transportam o GNL em câmaras criogênicas em unidades de regaseificação e armazenamento, do tipo FSRU (floating storage and regasification unit). Os contratos de afretamento deverão ter prazos variando em torno de dois anos, com possibilidade de aquisição no final.

A unidade da Baía de Guanabara será responsável por 14 milhões de metros cúbicos de GNL por dia e a planta de Pecém, por 6 milhões de metros cúbicos por dia. No total, a Petrobrás estima os custos de infra-estrutura da instalação das unidades em cerca de US$ 200 milhões. O valor esperado para o afretamento não foi revelado.

A Petrobrás também não definiu se a licitação deverá ser realizada pelo setor de gás e energia ou pela Transpetro.Um aspecto, porém, já foi acertado. O contrato deverá ser diferenciado para os períodos de inverno e verão no Hemisfério Norte, em razão da forte sazonalidade.

O diretor admitiu a possibilidade de a estatal investir em uma unidade de liquefação de gás natural fora do Brasil. O objetivo, segundo ele, seria, além de comercializar o GNL no exterior, trazer o combustível para as duas plantas de regaseificação a serem instaladas no Brasil até 2009. Com isso, a Petrobrás garantiria o abastecimento e poderia reduzir os custos com a importação do gás liquefeito.

Segundo Sauer, a possibilidade está "dentro da estratégia da empresa". "Há um consenso na diretoria da Petrobrás de que é bastante conveniente estudar projetos de GNL no exterior para vender lá e trazer o produto para cá. Mas essa idéia funciona hoje como filosofia e é uma idéia absolutamente correta", disse, lembrando que ainda não existe nada mais efetivo relativo ao tema.

Por enquanto, segundo o diretor, a Petrobrás vem discutindo com eventuais fornecedores contratos de aquisição do combustível para quando as plantas de regaseificação já estiverem instaladas. Segundo Sauer, já foram sondados os grandes fornecedores mundiais, como BG, BP, Repsol, Shell, Sonatrach, Suez e empresas russas.