Título: Jungmann: 'Parlamentares batem carteira do governo'
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2006, Nacional, p. A7

O vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), disse ontem que parlamentares envolvidos na venda superfaturada de ambulâncias "batem a carteira do governo federal". Jungmann disse que no Congresso hoje existe o deputado que vai ao plenário apenas para registrar a presença e garantir a integralidade do salário no fim do mês.

"Depois de bater o ponto, ele corre para bater a carteira do governo federal com suas emendas ao Orçamento da União. É o parlamentar-emenda", acusou.

Jungmann defendeu o fim das emendas individuais que permitem a cada parlamentar o uso de até R$ 5 milhões do Orçamento da União para obras em suas bases eleitorais.

Para ele, há provas para pedir a cassação de cerca de 80% dos parlamentares investigados pelo escândalo da compra de ambulâncias superfaturadas com verba oficial. Isso significa que, em números redondos, 93 congressistas podem responder a processo de perda de mandato nos Conselhos de Ética da Câmara e do Senado.

"Quem está falando em 30% está querendo ligar o forno da pizza", afirmou ele, numa referência aos parlamentares que afirmam haver provas apenas contra 30 deputados ligados ao esquema dos sanguessugas.

"São provas cabais, como o depósito de dinheiro em conta corrente ou do titular ou do assessor, pagamento de passagem, veículo e outros bens", disse Jungmann, a respeito dos congressistas que apresentaram emendas ao Orçamento da União para a compra superfaturada de ambulâncias e material médico-hospitalar. "Evidentemente que o parlamentar pode alegar que não sabe de nada, que o dinheiro foi parar na conta de um assessor, de um parente. Isso ele vai ter que explicar. As provas materiais estão aí."

CASSAÇÕES

Jungmann, no entanto, não aposta na cassação dos 80%. "Há provas contra eles. Mas eles podem mostrar a inocência. Isso é o processo que vai dizer", afirmou.

O vice-presidente da CPI dos Sanguessugas acredita que, se o Congresso derrubar o voto secreto para as sessões de cassação de mandatos, um número grande será punido. "Se mantiver a situação como é hoje, claro que muitos culpados vão se salvar", disse. Um exemplo ocorreu recentemente. Dos 19 deputados envolvidos no escândalo do mensalão, a Câmara cassou apenas 3.

O deputado admitiu que as investigações feitas pela comissão de inquérito estão provocando tensão política, sobretudo porque o ano é eleitoral. Mas ele quer isso mesmo. "Não interessa parar no meio do caminho. Quero levar a crise até o seu limite. Quero mostrar a putrefação e a metástase que ocorre no Congresso e em outros setores da administração pública à luz do dia."

As críticas de Raul Jungmann sobraram até para o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP). "O presidente Aldo disse que a próxima legislatura será muito triste porque começará com cassações. Mas graças a Deus será assim. Vai pôr para fora quem comprou ou vendeu o mandato", disse. Ele afirmou ainda que "é estarrecedor, é uma tragédia, é uma vergonha o envolvimento de tantos parlamentares na roubalheira".