Título: PF indicia petista e busca origem do dinheiro
Autor: Fausto Macedo, Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2006, Nacional, p. A6

A Polícia Federal deu início ontem, com diligências em três cidades, a uma bitz para tentar chegar à origem do dinheiro que um núcleo petista, até agora parcialmente identificado, iria usar para compra e distribuição do dossiê Vedoin, que atribui aos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin supostas ligações com a máfia dos sanguessugas.

Em depoimento prestado ontem na superintendência da PF em Cuiabá, Valdebran Padilha, arrecadador de campanhas do PT em Mato Grosso, reafirmou que o dinheiro foi dado pelo PT como uma ajuda aos Vedoin, que estariam passando por privações e problemas até com casos de doença na família, por causa do bloqueio dos seus bens. Preso junto com Valdebran na madrugada de sexta-feira no Hotel Ibis, em São Paulo, com US$ 248 mil e R$ 1,16 milhão em dinheiro, o petista Gedimar Passos, advogado e ex-agente federal, recusou-se a colaborar e saiu do depoimento indiciado pelo crime de supressão de documentos. Por isso, pode pegar de 6 meses a 2 anos de reclusão, com base no Artigo 305 do Código Penal.

Gedimar, que alegou o direito de ficar calado para não produzir provas contra si, é ligado a Freud Godoy - exonerado segunda-feira do posto de assessor especial da Presidência por envolvimento no caso do dossiê.

Valdebran não revelou no depoimento à PF de onde veio o dinheiro, mas suas pistas foram consideradas importantes para que a polícia e o Ministério Público cheguem aos responsáveis.

Conforme afirmou o petista, foi um ato de favor que não tem nada a ver com o dossiê. Ele disse também que o material - DVDs, fotos e imagens de Serra numa solenidade de entrega de ambulâncias, quando era ministro da Saúde - seria analisado e entregue à Justiça, dentro do acordo de delação premiada de Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam, principal empresa do esquema dos sanguessugas. Ontem, a Executiva do PT em Cuiabá suspendeu por 60 dias o registro de Valdebran e abriu processo na sua comissão de ética.

LOGÍSTICA

'O dinheiro foi levantado em vários locais, em endereços diferentes', revelou um delegado federal. Em Cuiabá, São Paulo e Brasília, equipes policiais começaram a percorrer casas de câmbio, escritórios de doleiros e factorings no rastro de pistas sobre as notas em série, no valor total de R$ 1,75 milhão, apreendidas sexta-feira no Ibis, próximo ao Aeroporto de Congonhas.

A estrutura e a logística do grupo petista impressionou até os policiais mais tarimbados em investigações dessa natureza. 'Temos que descobrir dentro da hierarquia desse grupo de onde veio tanto dinheiro', disse ainda o delegado. 'A operação foi toda compartimentada, cada um teve uma participação decisiva na montagem do negócio.'

A PF está convencida de que a soma foi resgatada 'pelo baixo escalão da organização'. A polícia também avalia que Valdebran, Gedimar e Freud não são as peças mais importantes da trama que chegou à ante-sala do presidente da República. Ao ordenar a prisão de Valdebran e de Gedimar, o juiz César Augusto Bearsi, da 3ª Vara da Justiça Federal em Mato Grosso, anotou que 'sem a prisão temporária essas pessoas prosseguirão suas ações'.

A investigação da PF aponta para Jorge Lorenzetti, fundador do PT e churrasqueiro do presidente Lula, que teria tido importante participação na elaboração do dossiê. Os federais fizeram levantamento no hotel onde foram aprisionados Valdebran e Gedimar. Descobriram que o grupo não se tratava por seus nomes corretos - adotava codinomes para despistar.

Lorenzetti teria participado de reuniões no Ibis de São Paulo. A PF requisitou à direção do hotel a fita com imagens do circuito interno de todos os ambientes e elevadores para identificar quem Valdebran e Gedimar receberam.

No depoimento dado à PF semana passada, Gedimar havia dito que o dinheiro para compra do dossiê fora providenciado por Freud e chegou a descrever dois emissários do PT que lhe teriam entregue o dinheiro do pagamento. O PT, conforme havia garantido, teria tido dificuldades de levantar o dinheiro. Assim, teria trazido para a operação um órgão de imprensa que teria exclusividade na divulgação do material, que acabou sendo publicado na revista IstoÉ.

SIGILO

A Justiça Federal decretou o sigilo das investigações. O procurador da República Mário Lúcio Avelar considerou a medida 'uma decisão respeitável porque a culpa não está formada, ainda não há como definir responsabilidades'. 'O sigilo serve para preservar a honra dos investigados.'