Título: Agenda de governador do Piauí aponta audiência com chefe da máfia
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2006, Nacional, p. A10

A agenda do governador do Piauí, Wellington Dias (PT), registra uma audiência, no dia 9 de junho de 2003, com o proprietário da Planam, Darci Vedoin. De acordo com o documento, disponível no site do governo do Piauí, a reunião com o homem acusado de participação em um esquema de venda superfaturada de ambulâncias, por meio de emendas parlamentares e licitações dirigidas, estava marcada para as 12 horas daquele dia.

O governador, no entanto, disse em entrevista ao Estado que o encontro entre eles não ocorreu. "O pessoal da minha agenda lembrou que teria sido marcada uma audiência, que teria sido solicitada em determinado momento e depois teria sido desmarcada", afirmou Dias.

Em depoimento à CPI dos Sanguessugas, anteontem, Luiz Antônio Vedoin, filho de Darci, declarou que teve três encontros com o governador do Piauí para tratar de um suposto direcionamento em processo de licitação. Segundo Luiz Antônio, os encontros teriam ocorrido no gabinete da Casa Civil do governo do Estado, em 2003 e 2004. O empresário não falou em dinheiro.

A agenda de Dias disponível na internet não está completa. Vários dias não têm anotações. Em outros, há apenas menção a "assunto particular".

O governador também disse ao Estado que recebeu em audiência, possivelmente em 2004, o petista José Airton Cirilo, integrante do Diretório Nacional do PT e apontado pelos Vedoin como o braço direito da máfia dos sanguessugas dentro do Ministério da Saúde.

De acordo com Dias, a reunião entre ambos teria ocorrido porque Cirilo estava interessado em resolver o problema de um parente, criador de camarão. Ele teria participado de um encontro do governador com criadores.

Em 24 de maio de 2004 há uma anotação na agenda de Dias sobre uma reunião com o presidente da Associação dos Criadores de Camarão, Manoel Lima, "acompanhado do secretário de Agronegócios, João Batista Alves". Não há menção à presença de Cirilo.

Entrevista Wellington Dias, governador do Piauí

O governador do Piauí, Wellington Dias, nega que tenha direcionado licitações em seu Estado, diz que não conhece os membros da família Vedoin e afirma que uma das marcas de seu governo "é a honestidade". Ele vê motivos eleitorais nas denúncias contra sua administração. Dias declarou que recebeu, em audiência, José Airton Cirilo, acusado de ser o braço da máfia dos sanguessugas no Ministério da Saúde. Mas, segundo o governador, eles trataram de problemas relativos à criação de camarões. Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.

Como o sr. viu as acusações dos sócios da Planam, que disseram que o sr. forjou uma licitação?

O Estado do Piauí, no meu governo, não comprou uma só ambulância da Planam. Compramos, de 2003 para cá, 195 ambulâncias, mas nenhuma delas da Planam. Eu nunca tratei com qualquer um dos Vedoin ou outra pessoa, nem autorizei ninguém a tratar, em meu nome, sobre direcionamento de qualquer licitação. Uma das marcas do meu governo é justamente a honestidade.

O sr. atribui a quê as acusações dos Vedoin?

Eu não sei. Estamos em um ano eleitoral e se ele tratou com alguém não foi comigo e ninguém tinha autorização para tratar em meu nome.

O sr. já o conhecia?

Não. Pelas fotografias que vi nos jornais não me lembro de nenhuma destas pessoas da família Vedoin. Quem vem ao Piauí sabe que a coisa mais fácil que tem é falar comigo. O pessoal da minha agenda lembrou que teria sido marcada uma audiência, que teria sido solicitada em determinado momento, e depois teria sido desmarcada. O fato é que nunca tratei sobre qualquer coisa de direcionamento nem compramos nada da Planam.

Quem venceu a licitação para o fornecimento de ambulâncias? A KM Empreendimentos vendeu alguma coisa para vocês?

Não. Aqui são empresas locais e, de fora, algumas fábricas. Nós adotamos um incentivo, empresas locais que fornecem qualquer produto ou serviço ao Estado estão isentas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Isso dá uma vantagem às empresas locais e normalmente são elas que ganham as licitações.

O sr. conhece José Caubi Diniz e Raimundo Lacerda Filho?

Não.

E o sr. conhece José Airton Cirilo?

Este eu conheço. Estive na campanha dele, em 2002, no Ceará. Meu pessoal também verificou na minha agenda que ele solicitou uma audiência para tratar de um problema de um parente dele, que tinha um investimento de criação de camarão e havia uma intervenção do Ibama que estava dificultando o trabalho. Mas não era só dele. Era de todos os criadores de camarão no litoral. Depois foi resolvido. Ele veio com vários criadores de camarão da região do Parnaíba e com pessoal da Universidade do Vale de Acaraú.

O que o sr. achou da declaração do empresário Luiz Antonio Vedoin, que disse que o pregão eletrônico que seu Estado faz é vulnerável?

O nosso sistema utiliza o mesmo sistema do Banco do Brasil e é um sistema considerado seguro. Não houve nenhum problema apontado com ele.

Se fosse convocado pela CPI, o sr. prestaria depoimento?

A CPI aprovou ontem que não há nenhum elemento contra mim e contra o governador Zeca do PT, de Mato Grosso do Sul e resolveu nem usar esse expediente. Mas eu já ofereci à CPI e à Polícia Federal toda a documentação relativa a todas as licitações de compra de ambulâncias e aos contratos feitos no meu Estado.