Título: 'Wagner faz apologia da mentira'
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2006, Nacional, p. A13

Na última visita a Minas Gerais antes da eleição, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, acusou ontem o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT) - um dos coordenadores da campanha à reeleição do presidente Lula -, de fazer 'apologia da mentira'. 'O brasileiro não gosta de mentiroso. Como é que pode um dos coordenadores da campanha de Lula, um governador eleito, dizer que os petistas podem, devem e não têm problema em mentir? Nada disso. Não há nada que se sustente sobre a mentira', discursou Alckmin em Belo Horizonte, ao lado do governador reeleito Aécio Neves (PSDB). Minas é o segundo maior colégio eleitoral do País e tem recebido especial atenção do tucano, que esteve no Estado 19 vezes só no primeiro turno.

Wagner admitiu anteontem que os petistas acusados de tentar comprar o dossiê Vedoin podem estar mentindo à Polícia Federal quando dizem não saber de onde veio o R$ 1,75 milhão que seria usado na negociação. 'Ao réu é dado o direito de mentir', disse Wagner.

Alckmin voltou a criticar seu adversário ao mencionar os mais recentes escândalos de corrupção no governo. E ironizou: 'Só na telinha da novela do candidato do PT é que tudo é uma maravilha.' O presidenciável se recusou a comentar o aceno de emissários de Lula para um pacto de governabilidade. Apesar de estar em desvantagem nas pesquisas, disse estar confiante na virada. 'É no final que há grandes ondas de opinião e decisão de voto. Silenciosamente, há um sentimento de que as coisas não vão bem.'

Aécio também criticou a declaração de Wagner. 'Dizem que está exaurido o debate da ética, como se fosse justificado que lideranças do PT mintam. Que exemplo é esse?', questionou. E advertiu que a vitória ou derrota faz parte do processo democrático. 'O que não perderemos é o que, talvez, eles já tenham perdido: a compostura com um Brasil decente.'

O governador mineiro fez ainda uma dura crítica à postura do presidente nesta reta final da campanha, sobretudo ao comentar o comportamento do petista no debate de anteontem da TV Record. Aécio falou 'em excesso de ironia e demasiada arrogância' de Lula ao discursar ao lado de Alckmin para uma centena de líderes políticos mineiros no Palácio das Mangabeiras. 'Arrogância e salto alto não fazem bem a candidatura alguma', observou.

Para o governador de Minas, Lula não se comportou como deveria. 'Faltou respeito. Não a Geraldo Alckmin, mas à sociedade brasileira. Pareceu que as eleições já tinha terminado.' Levando em consideração o resultado do primeiro turno - quando as pesquisas indicavam a vitória de Lula, ressaltou: 'Se surpreenderam e pode ser que se surpreendam de novo. Em Minas, aprendemos cedo que eleição e mineração só têm resultado depois da apuração.'

PARCERIAS

Aécio negou ontem que tenha mantido conversas com interlocutores do governo Lula como se o segundo mandato estivesse garantido. 'Isso é coisa de véspera de eleição. Acho que eles que estão do outro lado querem se aproximar dos governadores eleitos até para se afastarem dos que lhes causam problemas. Não fui procurado e não aceitaria conversar sobre nada que envolvesse o próximo mandato. Até porque acredito que no próximo mandato as conversas serão com o presidente Geraldo Alckmin', disse.

Para o governador mineiro, os comentários de que ele e o governador eleito de São Paulo, José Serra, já estariam negociando parcerias com o governo Lula são uma 'inverdade'.

Alckmin, Aécio e o ex-presidente Itamar Franco participaram de corpo-a-corpo numa praça da região central de Belo Horizonte.