Título: Mundo reage; EUA falam em bloqueio militar à Coréia do Norte
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2006, Internacional, p. A17

Poucas horas depois de a Coréia do Norte realizar o primeiro teste atômico de sua história, na manhã de segunda-feira na Ásia, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu em caráter de emergência para condenar por unanimidade a explosão. O embaixador dos EUA nas Nações Unidas, John Bolton, apresentou uma lista de sanções de 13 itens, baseada no Capítulo 7 da Carta da ONU - que dá aos países membros a prerrogativa de impor represálias diplomáticas, econômicas e, em última instância, militares contra países que ameacem a paz e a segurança mundiais.

A essa lista foram acrescentadas propostas japonesas para que todos os países da ONU sejam proibidos de permitir a chegada de navios e aviões norte-coreanos a seu território e para a imposição de restrições de viagem a altos funcionários de Pyongyang. Um esboço de resolução incluindo todas essas propostas foi distribuído pelos EUA aos membros do Conselho no início da noite. O Japão também não descartou a possibilidade de sanções militares.

'Mais uma vez, a Coréia do Norte desafiou a comunidade internacional, e a comunidade internacional responderá à altura', declarou o presidente americano, George W. Bush, depois de falar por telefone com os líderes da Coréia do Sul, Rússia, China e Japão. Ele qualificou o teste de 'um ato de provocação que ameaça a paz e a estabilidade' e voltou a acusar o regime norte-coreano de ser uma das principais fontes mundiais de tecnologia de mísseis e de transferir know-how de seu programa nuclear para países como Síria e Irã. Washington também advertiu que um eventual ataque norte-coreano à Coréia do Sul ou ao Japão seria considerado 'um ataque contra os EUA'. Seul, por sua vez, anunciou que vai rever sua política de aproximação com Pyongyang.

Após a reunião do Conselho de Segurança da manhã, Bolton afirmou ter ficado 'muito impressionado com a unanimidade do órgão sobre a necessidade de uma resposta forte e clara' aos norte-coreanos. A secretária de Exterior da Grã-Bretanha, Margaret Beckett, disse que seu país apóia a aprovação de sanções a Pyongyang com base no Capítulo 7. A França também demonstrou a tendência de votar em favor da proposta. Por outro lado, Rússia e China, que mantêm vínculos comerciais com Pyongyang, relutavam em dar apoio à moção.

Entre os itens da proposta americana contra a Coréia do Norte estão a proibição do comércio de material que possa ser usado para a fabricação de armas de destruição em massa, a inspeção de todos os navios cargueiros que cheguem ou saiam do país, a suspensão de todas as operações financeiras usadas para apoiar a proliferação nuclear, a proibição da importação de artigos de luxo e o embargo de compras de material militar pelo país.

A questão norte-coreana monopolizou as atenções na ONU, no mesmo dia em que o Conselho de Segurança confirmou oficialmente o chanceler sul-coreano, Ban Ki-moon, como sucessor de Kofi Annan. Ban assume a secretaria-geral da entidade em 1º de janeiro.

O objetivo das sanções é forçar a Coréia do Norte a retomar as negociações multilaterais com EUA, Rússia, China, Japão e Coréia do Sul para o desarmamento norte-coreano - iniciadas em 2003 e abandonadas em 2005 por Pyongyang, que passou a exigir um diálogo bilateral com Washington. Os EUA, que mantêm congeladas contas da Coréia do Norte no exterior, se negam a dialogar diretamente com o regime comunista.

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, em visita à Coréia do Sul, disse que o teste norte-coreano é 'imperdoável' e advertiu que a detonação estava lançando a região numa 'nova e perigosa era nuclear'.

Segundo jornais sul-coreanos, o teste foi feito em Kilju, perto da fronteira da China, às 10h36 de segunda-feira (22h36 de domingo em Brasília). Especialistas do Instituto Geológico do EUA disseram ontem que ainda precisariam de mais dois dias para confirmar oficialmente a detonação nuclear. Sismógrafos de centros de Seul, no entanto, registraram um tremor de 3 graus na escala Richter - compatível com uma pequena explosão atômica subterrânea.

Numa nota, o governo brasileiro condenou veementemente o teste nuclear, exortando Pyongyang a reintegrar-se, 'incondicionalmente e na condição de país detentor de armas atômicas', ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear e a aderir ao Tratado Amplo de Proibição de Testes Nucleares no mais breve prazo. Um dos maiores rivais dos EUA na América Latina, o governo venezuelano condenou 'todos os testes nucleares com fins militares, seja quem for que os faça, pelo imenso dano que eles causam ao planeta'.