Título: Lula promete 'debate profundo' sobre ética
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2006, Especial, p. H3

Nas várias reuniões reservadas realizadas ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que brigará pela bandeira da ética no segundo turno da campanha. Mais: avisou que não permitirá que a oposição tente colar no seu governo e no PT o carimbo de corrupção. À noite, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, Lula disse que deseja fazer 'um debate profundo' sobre a questão ética no País.

'Temos feito mais do que qualquer outro governo fez na história deste País para punir qualquer desvio e para resolver o problema da pobreza', afirmou o presidente. Ao falar na redução da miséria, Lula destacou que seu governo diminuiu os índices em 19,3%. 'Tiramos essas pessoas da miséria e a colocamos no âmbito da cidadania. Esse é um feito extraordinário', comemorou.

Ainda na entrevista, o presidente-candidato disse que pretende levar ao eleitorado, no segundo turno, a mensagem de que o Brasil está dando certo, crescendo e criando empregos. 'As pessoas estão comendo mais e ganhando mais', insistiu.

PÁGINA VIRADA

Aos ministros que ontem conversaram com ele, Lula pediu empenho na campanha. 'O que aconteceu é página virada. Temos muito trabalho pela frente', disse.

Ainda de manhã, o presidente passou a mão no telefone e começou a pedir apoio. Ligou para Sérgio Cabral, candidato do PMDB ao governo do Rio, que disputará o segundo turno com Denise Frossard, do PPS. Ela já aderiu à campanha de Alckmin. Depois, telefonou para o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), derrotado na disputa pela reeleição.

Reeditando o estilo Lulinha paz e amor, que havia aposentado no primeiro turno, o presidente, a partir de agora, dará entrevistas e participará de todos os debates com seu adversário do PSDB, Geraldo Alckmin.

A avaliação foi de que a ausência de Lula no debate da TV Globo, na quinta-feira, foi um erro. 'Eu achava que o presidente deveria ter ido, mas fui voto vencido', afirmou o vice-presidente, José Alencar.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentou amenizar o estrago. 'Em política, sempre existem sustos', disse. 'Não existe nenhuma eleição tranqüila, nem no Brasil nem em outro país do mundo.'

O presidente descartou a possibilidade de se licenciar do cargo durante o segundo turno e vai reforçar as viagens pelo País. O publicitário João Santana, marqueteiro da campanha, reforçará a divulgação das 'realizações' do governo na propaganda eleitoral de TV.

'Não foi o governo Lula que tirou a vitória do presidente no primeiro turno. Foram essas confusões todas no PT', argumentou João Felício, secretário de Mobilização da campanha petista, ao explicar por que motivo o partido insistirá na tática da comparação entre a administração do PT e os oito anos do governo Fernando Henrique (1995 a 2002).

GUERRA

'Vamos para a guerra. Agora o debate será político e ideológico e teremos de lembrar o eleitor o que foi a gestão de Alckmin em São Paulo', resumiu o secretário-adjunto de Comunicação, Francisco Campos. 'É preciso falar não apenas dos vínculos de Alckmin com a extrema-direita fundamentalista, a começar da Opus Dei, mas também do que foi o seu governo em São Paulo, dos pedágios às privatizações, passando pelo crime organizado', afirmou o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar.

Petistas avaliam que o segundo turno será uma disputa sangrenta, como a de 1989 entre Lula e Fernando Collor. Apesar da inimizade política, vão agora atrás dos candidatos derrotados, Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT).