Título: Tesoura, só nos supérfluos, diz presidente
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2006, Nacional, p. A6

Para Lula, redução de gastos tem de servir para modernizar a máquina

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou ontem que poderá cortar gastos em um eventual segundo mandato, desde que sejam 'supérfluos'. Em uma entrevista na porta da Granja do Torto, onde parou para cumprimentar militantes, Lula disse ainda que era 'uma coisa despropositada' discutir reajustes de salários dos servidores neste momento, depois de o governo ter dado 'bons aumentos'.

'Tudo o que for supérfluo você vai ter que cortar', disse Lula. 'Tudo o que for necessário cortar, tudo o que a gente puder modernizar na máquina pública se faz.' Ele citou o recadastramento da Previdência, que teria ajudado a reduzir em R$ 1 bilhão o déficit, como uma das medidas que podem ser tomadas para reduzir os custos. 'Você vai ter que fazer uma investigação em todas as áreas para que se possa diminuir o gasto e aumentar o investimento.'

O próprio presidente vinha dizendo que não era necessário cortar custos da máquina pública para incentivar o crescimento. Na sexta-feira, o coordenador da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, disse que o governo vai cortar sim, mas de forma gradual. Segundo ele, não é mais necessário dar grandes aumentos para os servidores.

'Eu acho uma coisa despropositada discutir salário de funcionário público agora. Primeiro, porque nós demos um bom reajuste nos últimos quatro anos', afirmou Lula. Ao todo, os reajustes vão acrescentar R$ 10 bilhões na folha dos servidores.

Ao mesmo tempo, Lula defendeu os servidores. Afirmou que a categoria ganha muito menos do que pessoas da mesma formação no setor privado e que negociará sempre que for preciso. 'Nós não temos a cultura, o hábito, de fazer com que os trabalhadores sejam a vítima que foram durante muitos anos', afirmou. 'Quando as pessoas dizem 'vamos fazer um choque de gestão, vamos enxugar a máquina', eu já sei o que vai acontecer. Os trabalhadores saem perdendo.'

Mais uma vez, Lula acusou seu adversário, o tucano Geraldo Alckmin, de pretender privatizar mais empresas estatais, mas negou que seja 'terrorismo eleitoral'. 'Não estou inventando história, estou constatando o que acontece no Brasil. Eles têm que admitir isso, para o bem deles, para a verdade do partido deles.' Lula, no entanto, afirmou que o PT errou ao criticar a mulher e a filha de Alckmin em um boletim de campanha. 'O PT cometeu um erro de que já foi vítima muitas vezes, e nós não podemos aceitar essa prática.'

Lula passou a manhã na Granja do Torto e saiu perto do meio-dia para gravar programa eleitorais. Cerca de 100 militantes o esperavam na porta.