Título: De cada 4 deputados de SP que pedem voto, 1 está sob suspeita
Autor: Luciana Nunes Leal, Eugênia Lopes, João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2006, Nacional, p. A4

Um em cada quatro deputados federais de São Paulo que são candidatos nesta eleição devem explicações não só ao eleitor, mas também à Justiça. A bancada paulista tem 70 deputados e 62 concorrem a algum cargo eletivo em São Paulo. Desses, 17 foram denunciados por alguma CPI ou estão sob investigação do Supremo Tribunal Federal (STF) para apuração desses ou de outros crimes, como improbidade administrativa.

Suspeitos de envolvimento na máfia dos sanguessugas, cinco deputados decidiram não se candidatar. Outro trocou o domicílio eleitoral para o Rio, onde tentará novo mandato. Dois oposicionistas não envolvidos em escândalos decidiram deixar a vida parlamentar.

Em uma legislatura marcada por investigações de corrupção, poucas punições e quase nenhuma aprovação de matérias relevantes, um parâmetro para escolher o representante na Câmara é verificar se o candidato foi denunciado em algum escândalo, se foi punido, inocentado ou se ainda está sob suspeita. Embora os investigados sejam uma legião maior, a bancada paulista teve também alguns investigadores - deputados que atuaram nas CPIs ou no Conselho de Ética. Testam agora nas urnas se a atuação renderá votos que garantam a reeleição.

O Estado fez levantamento sobre cada deputado paulista no STF e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No site da Câmara e em outras páginas sobre atuação parlamentar, conferiu emendas ao Orçamento e outros detalhes da ação deles.

Nada menos que 27,4% pedem votos apesar de estarem sob suspeita. Todos os investigados alegam inocência. Dizem ser vítimas de calúnia ou de ataques deliberados de inimigos.

Na bancada paulista, existe desde Jovino Cândido (PV), que citou apenas uma linha telefônica de R$ 1.500 em sua declaração de bens, até o empresário Vadão Gomes (PP), dono de patrimônio declarado de R$ 35,7 milhões. A bancada perdeu o deputado Vanderlei Assis (PP), que se transferiu para o Rio, e Corauci Sobrinho (PFL), candidato a uma vaga na Assembléia Legislativa. Também não terá, na próxima legislatura, dois tucanos incansáveis na oposição ao governo Lula: Alberto Goldman, candidato a vice-governador na chapa de José Serra, e Zulaiê Cobra, que concorre à suplência do Senado na chapa de Guilherme Afif Domingos (PFL).

DISTÂNCIA

"Há uma diferença imensa para as outras eleições, um distanciamento muito grande da sociedade", diz Orlando Fantazzini (PSOL). "Por um lado, a gente percebe um eleitor que fará uma análise apurada dos candidatos. Por outro, é só descrença e não querer saber de nada."

Para o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB), o eleitor está indignado. "Muitos acham que todo político é desonesto. Uma grande parte vai anular o voto. Mas tem uma parcela que, por tudo isso, resolveu escolher melhor", afirma Izar.

O petista José Eduardo Martins Cardozo, que integrou a CPI dos Correios, se preocupa com o voto nulo. "Favorece o candidato que tem estrutura financeira e o que faz política assistencialista. E isso é muito grave", alerta o petista.