Título: 'Estamos vendo um país que apodrece', diz juiz
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2006, Nacional, p. A6

Para Maierovitch, o Brasil não dispõe de sistemas eficientes para fiscalizar autoridades do Judiciário, Executivo e Legislativo

O juiz aposentado Walter Maierovitch, presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone, que desenvolve estudos sobre o crime organizado e o terrorismo, considera preocupante o aumento das denúncias envolvendo autoridades com organizações criminosas e a falta de mecanismos para conter esse processo. "Estamos vendo um Brasil que apodrece", avalia.

Nos esquemas revelados nas Operações Sanguessuga e Dominó observa-se um alto grau de articulação entre o crime organizado e os Poderes constituídos. Como o senhor vê isso?

A infiltração do crime organizado nos Poderes de Estado é antiga e foi muito bem demonstrada na Operação Mãos Limpas, na Itália. As organizações criminosas sempre procuram se infiltrar ou atuar como parasita junto ao Estado. O que me preocupa mais no Brasil é o aumento do número de casos e a ausência de mecanismos regulares de investigação. Ficamos sempre na dependência de alguma denúncia. No caso recente de Rondônia, foi o governador quem deflagrou o processo que deu origem à investigação. Se o Roberto Jefferson não tivesse aberto a boca, não teríamos sabido do mensalão.

O senhor não se surpreendeu com o fato de ter sido preso o presidente do Tribunal de Justiça?

Não. Como já disse, não existe uma fiscalização efetiva nos Poderes de Estado. No caso do Judiciário, por mais que se tenha falado em controle externo, o que existe é um controle corporativo. Por que iria me surpreender com o caso do desembargador depois do episódio do ministro Vicente Leal, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, acusado de vender liminares em habeas-corpus para narcotraficantes, pediu e obteve aposentadoria na véspera da reunião do tribunal que decidiria se era culpado ou não? Ficamos sem saber se a denúncia era procedente ou não.

Também falta controle nos outros Poderes?

Basta ver o que houve nas CPIs do mensalão, do Banestado e outras. Eles também agem de forma corporativa, protegidos pelo voto secreto. Esse é o quadro que leva à conclusão de que estamos vendo um Brasil que apodrece, com mensaleiros e sanguessugas