Título: Presidente do PT prega novo tipo de relacionamento com a oposição
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Nacional, p. H4

Marco Aurélio Garcia diz que PSDB e PFL foram dominados por tendência que pregava golpe contra o presidente

O presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, acusou a oposição, protagonizada pelo PSDB e pelo PFL, de ter sido dominada hegemonicamente por uma tendência que pregava o golpe de Estado contra o presidente Luiz Lula Inácio Lula da Silva.

¿A oposição foi hegemonizada, lamento dizer, mas foi hegemonizada por uma tendência de caráter golpista que estava sonhando com a derrubada do governo¿ acusou, depois de votar, ontem, às 12h32, na sua seção eleitoral no Colégio Palmares, em São Paulo.

Confiante na reeleição de Lula para mais quatro anos, o dirigente petista conclamou os partidos de oposição a uma mudança de comportamento. ¿Eu tenho a impressão que esse problema (o golpismo) será progressivamente arquivado e que nós vamos poder construir outro tipo de relacionamento entre governo e oposição¿ ressalvou.

Diferentemente de outras entrevistas, o coordenador da campanha da reeleição de Lula disse esperar uma relação menos tensa com a oposição. Garcia acredita que os partidos de oposição e os da base de apoio ao governo não precisam negociar uma trégua.

O melhor entendimento, na avaliação do presidente do PT, é a aprovação, sem paixões, de projetos que sejam de interesse para o País.

Nesse cenário, o entendimento se restringiria às questões específicas e não a um pacto mais amplo em nome da governabilidade. ¿Não acho que seja problema de trégua. Nós não queremos cooptá-la nem a oposição se deixaria. Nós queremos que a oposição possa desempenhar seu papel e, naqueles projetos que entender que o interesse nacional está em jogo, possa somar posição com o governo¿, disse.

SUSPEIÇÃO

Além de pregar a distensão política, Garcia também saiu em defesa do PT. E usou como argumento o bom desempenho nas urnas como indicador de que a sociedade em seu julgamento absolveu a legenda da série de escândalos em que se envolveu.

¿O partido não termina essa eleição sob suspeição. Um partido que reelegeu presidente da República, que vai eleger mais governadores do que na última eleição, elegeu uma bancada de deputados quase igual à que tinha antes, a despeito de todas as dificuldades que enfrentamos. O PT saiu-se muito bem dessa eleição¿, argumentou Garcia.

Mas admitiu que nem só de brilho vive a estrela do PT. Ele lamentou as vaias e os xingamentos feitos por eleitores contra o ex-ministro José Dirceu, no momento em que ele foi votar. ¿José Dirceu provavelmente foi punido. Não pelos eventuais erros que tenha cometido, mas por uma imagem que se projetou na sociedade. Essas manifestações de vaia são manifestações democráticas. Sobre ele colou-se uma imagem muito forte. Ele está se defendendo. Algumas dessas acusações já foram derrubadas pela Justiça. Evidentemente aqueles que o vaiaram hoje não vão pedir desculpas, até porque estavam à procura de um pretexto para vaiá-lo¿, defendeu.

Garcia também procurou demonstrar confiança de que a oposição, passadas as eleições, não retomará para o centro da discussão o caso da compra de dossiê contra políticos tucanos. No seu horizonte, as investigações continuarão a cargo da Polícia Federal, e caberá a ela apontar os culpados.

No âmbito de apuração das responsabilidades partidárias já estaria tudo resolvido. ¿Para o PT, o caso já teve conseqüências práticas. Nós desligamos as pessoas envolvidas nisso, condenamos esse ato e vamos continuar condenando. Agora, vamos simplesmente tomar medidas mais enérgicas para que situações desse tipo não venham a se reproduzir¿, disse.

Garcia não pretende continuar à frente do partido. Disse esperar que o novo presidente seja escolhido em data ainda a ser definida pelo congresso do partido. Mas ao fazer um balanço de sua rápida passagem, logo após o escândalo do dossiê, emitiu sinais de que deixa o PT mais unido e mais consciente de seu papel no governo.

¿Mais do que isso, o elemento fundamental é que o PT sai muito unido do ponto de vista político. Ninguém hoje tem dúvidas sobre qual deve ser a postura do governo Lula, qual deve ser a orientação que nós vamos procurar imprimir às lutas políticas nos próximos quatro anos¿, disse. Garcia pretende voltar às suas funções de assessor especial de Relações Internacionais. Ali, ele dividirá o comando da política externa com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.