Título: Grupo teria ligação com Arcanjo
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2006, Nacional, p. A7

Segundo CPI, pelo menos 2 deputados usaram empresa de Piran, sócio do comendador em esquema de lavagem

Ricardo Brandt

A CPI dos Sanguessugas tem elementos que mostram uma relação entre o esquema montado por parlamentares de Mato Grosso para desviar recursos federais com emendas e mecanismos de lavagem de dinheiro usados por João Arcanjo Ribeiro, o comendador Arcanjo. Documentos apreendidos nas empresas ligadas à Planam e depoimentos de Luiz Antônio Vedoin e Ronildo Pereira de Medeiros ao Ministério Público indicam que pelo menos dois deputados - Ricarte de Freitas (PTB) e Lino Rossi (PP) - usaram a factoring de Darci Agostinho Piran.

Piran é acusado de ser parceiro de Arcanjo em esquemas de lavagem de dinheiro do narcotráfico e num rombo de R$ 15,4 milhões na Assembléia Legislativa. Com Arcanjo, foi acusado ainda de assassinar um cabo da PM em 2002. A fortuna dos dois é avaliada em R$ 1,1 bilhão. Piran ficou preso quase um ano por crime contra o sistema financeiro, lavagem e formação de quadrilha, mas foi libertado por um habeas-corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Segundo os depoimentos, na factoring os deputados retiravam dinheiro e deixavam cheques como garantia, que depois eram pagos pelas empresas ligadas à Planam como antecipação da propina pelas emendas que apresentavam para compra de ambulâncias. A factoring também teria sido usada para comprar uma carreta e um microônibus que foram postos à disposição de Lino Rossi em sua campanha em 2002.

Na folha 82 do depoimento de Luiz Antônio à Justiça Federal de Mato Grosso, em 26 de junho, consta que ele "tinha um acordo" com Ricarte de Freitas, para que operasse suas emendas em Mato Grosso "tanto na área da saúde quanto na de ciência e tecnologia, mediante o resgate de um cheque do deputado, no valor de R$ 118 mil, que se encontrava em poder da Factoring Piran".

Ele afirma ainda que Ricarte pegou R$ 100 mil na Piran para pagar uma dívida no BCN e "a factoring somente aceitou emprestar o dinheiro mediante uma garantia": um cheque-caução de R$ 108.066,99. As cópias dos cheques estão em poder da Justiça Federal, que mantém o processo sob sigilo.

Ele garante que há um comprovante de pagamento para a Piran Factoring entre os documentos em poder da Justiça, no valor de R$ 98.311,15, que está "contabilizado nas antecipações ao parlamentar".

ACORDO

Luiz Antônio diz que conheceu Rossi em 1999 e fez acordo semelhante ao de Ricarte: o grupo gerenciaria suas emendas e pagaria a ele 10% do valor de cada negócio. Rossi "fazia o contato com os prefeitos e pedia que passassem na sede da Planam para acertar detalhes do direcionamento das licitações", conta. "Na maioria das vezes, os próprios prefeitos vinham à sede com as seis cartas-convite, referentes a processos de licitação."

Segundo Luiz Antônio, além dos pagamentos de comissão, Ricarte e Rossi receberam carros, como uma van que vale R$ 70 mil.

Não é a primeira vez que políticos aparecem nos negócios ilegais do grupo de Arcanjo. Documentos apreendidos nos processos contra ele e Piran incluem cheques e promissórias em nomes de políticos locais.

Um funcionário do gabinete de Rossi informou que ele estava em Mato Grosso, incomunicável. Ricarte de Freitas não respondeu às ligações da reportagem.