Título: Lula promete bater opositores em seus próprios redutos
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2006, Nacional, p. A13

Para presidente, crise política é a mesma desde anos 50

, ESPECIAL PARA O ESTADO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem em São Paulo seu primeiro comício no Estado e disse que pretende intensificar a campanha nos Estados onde há líderes da oposição. "Aqueles que mais me agridem, é nos Estados deles que vou ter mais voto", provocou. "Vamos ver na Bahia (onde enfrenta a oposição do senador Antonio Carlos Magalhães, do PFL), no Amazonas (terra do líder do PSDB, Arthur Virgílio ) e em Santa Catarina (Estado do presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen). Quanto mais bater, mais vou na terra deles buscar votos." Em São Paulo, onde fez o discurso, o principal adversário de Lula, o tucano Geraldo Alckmin, o vence por 43% a 33%, segundo pesquisa Estado/Ibope divulgada nesta semana.

O comício de Lula de ontem, realizado no bairro popular de São Mateus, não contou com a presença dos deputados mensaleiros do PT. Cercado por vários candidatos à Câmara e à Assembléia, Lula só viu próximo de seu palanque o deputado José Mentor (PT-SP), que escapou da cassação na Câmara. Em um discurso de 30 minutos, o presidente disse que seus adversários estão nervosos com seu desempenho. "Em nenhum momento eu fiquei nervoso", afirmou. "Vou fazer campanha sem citar o nome dos meus agressores."

Lula citou o preço do arroz, do óleo e do cimento para tentar demonstrar que a vida do brasileiro melhorou em seu governo e prometeu fazer em oito anos "o que eles não fizeram em 20". "Conseguimos um milagre sem fazer mágica: controlar a inflação", ressaltou. "As pessoas estão comendo melhor e estamos só no começo."

A agenda de Lula em São Mateus previa, inicialmente, uma caminhada pela principal avenida do bairro, o que não ocorreu por questões de segurança. Mesmo assim, Lula fez questão de cumprimentar eleitores próximos do palanque. Lula disse que desde 1981 freqüenta São Mateus como político. Em 1982, quando disputou sem sucesso seu primeiro mandato ao governo de São Paulo, fez comício nesse mesmo local.

TEMPO DE GETÚLIO

Depois do compromisso em São Paulo, Lula seguiu para Campinas, onde participou de comício que reuniu dezenas de prefeitos da região - inclusive dois do PFL e dois do PSDB que apóiam a reeleição. Na defesa da convocação de uma Assembléia Constituinte para fazer a reforma política, o presidente disse que existe uma crise no País que é do tempo de Getúlio Vargas. "A crise política que nós vivemos não é crise política de agora", discursou. "É a crise política que levou Getúlio à morte. É a crise política que levou o Juscelino (Kubitschek) a ser esculachado como era esculachado todo santo dia. É a crise política que levou o (João) Goulart a cair." Para Lula, essa crise "não é de um deputado ou de um partido", mas "do sistema político brasileiro". E prosseguiu: "A estrutura está apodrecida e nós temos que mudá-la. Esse País precisa parar de ser o país do jeitinho." O partido de Lula, o PT, é acusado de ter articulado um esquema inédito de compra de apoio no Congresso, oferecendo dinheiro a parlamentares para que apoiassem o Executivo. Foi o mensalão que abriu a atual onda de escândalos envolvendo políticos, que agora gerou a proposta de Lula.

O encontro de Campinas contou com discurso inusitado do prefeito de Araçariguama, Carlos Aymar Srur Bechara, do PFL. O prefeito rasgou elogios ao presidente e seus ministros e criticou duramente o candidato Geraldo Alckmin e seu partido. "No PSDB, um lado pensa que é Deus e outro tem a certeza de que é Deus", disse, para explicar que em seis anos à frente da cidade nunca conseguiu uma audiência com o então governador de São Paulo.

COLABOROU RODRIGO PEREIRA