Título: Cercado e xingado, petista permaneceu impassível
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Nacional, p. H9

Ex-chefe da Casa Civil estava escoltado por amigos, que afastaram e até empurraram os mais exaltados

¿É Lula, de novo!¿, berravam militantes petistas. ¿Ladrão!¿, gritavam eleitores tucanos. Foi sob essa guerra de palavras de ordem, marcada por empurrões, ameaças e insultos, que o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, alvo dos insultos, chegou e foi embora ontem da 14ª seção da 258ª zona eleitoral, na Universidade Ibirapuera, em Moema.

Escoltado por amigos e militantes que o esperavam, Dirceu permaneceu impassível e não respondeu às ofensas que ouviu tanto quando se dirigiu para a mesa eleitoral como ao sair. O ambiente só se acalmou durante os poucos minutos em que votou. No incidente, até alguns mesários, que trabalhavam em outras seções, deixaram os seus lugares para insultar o petista.

Diferentemente do primeiro turno, quando votou pouco depois das 8h15, chegou a ser cumprimentado e foi embora rapidamente, ontem Dirceu chegou às 10h07 e se demorou em entrevista na porta. Enquanto conversava, ouvia os gritos esparsos de ¿vergonha¿ e ¿safado¿.

Considerou ¿normal, natural¿ esse tipo de incidente e voltou a dizer que provará sua inocência das acusações de chefiar o mensalão. ¿O País tem democracia, as pessoas têm liberdade de manifestação¿, afirmou. ¿Eu tenho serenidade, tranqüilidade, porque tenho apoio e tenho respaldo na militância do meu partido e na sociedade. Porque senão eu não estaria como estou, depois de tudo que passei.¿ Enquanto falava, porém, eleitores hostis - alguns discretamente estimulados por militantes do PSDB - se aglomeravam. Quando se dirigiu para votar, começaram a vaia e os xingamentos. ¿Judas¿ foi um deles.

O auditor Marcelo Teles tentou seguir Dirceu, vaiando-o, mas foi impedido. ¿Um assessor dele começou a me empurrar e disse: `Respeite o direito dele votar¿. Eu respondi: `Respeita meu direito de expressão¿.¿ Dirceu também foi recebido com vaias ao chegar ao segundo andar, onde funcionava sua seção. Votou e, ao sair, ouviu os gritos que recomeçavam com mais força: ¿Ladrão, ladrão, ladrão.¿ Seus seguidores responderam com o slogan de Lula e punhos fechados.

O clima piorou, quando o ex-ministro desceu a escada. A professora Mariana Correia Cintra, com as mãos levantadas, investiu contra ele. Recebeu uma ¿gravata¿ e foi empurrada.

Sempre aparentando tranqüilidade, o petista, cercado pelos amigos, avançou em direção ao corredor que se formara para insultá-lo, em meio a empurrões e ameaças. Entrou rapidamente em um carro, protegido por dois policiais militares. O automóvel ainda foi alvo de um pontapé, dado pela professora que continuava a persegui-lo, e de restos de pastel, atirados por alguns exaltados - uma banquinha, ao lado, fritava e vendia o salgado.