Título: Empresas asiáticas brilham em ranking
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Economia, p. B1

Das 100 companhias de países emergentes que mais investem no mundo, 77 são da Ásia

O setor privado do Brasil e da América Latina não consegue acompanhar a internacionalização das empresas asiáticas. Segundo o relatório anual sobre investimentos da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), as multinacionais de países em desenvolvimento se tornam atores da economia internacional e já fazem 15% dos investimentos do setor privado mundial. Mas, se entre 1980 e 1990 o Brasil era o emergente que mais investia no exterior, o País foi amplamente superado pelos asiáticos e perdeu a liderança na última década.

Hoje, está na sexta colocação em termos de estoque de capital no exterior e, dos US$ 72 bilhões que o Brasil tem lá fora, 65% estão em paraísos fiscais. A Argentina, que figurava na terceira colocação em 1980, sequer conta com uma empresa entre as cem primeiras dos países emergentes.

Atualmente, as empresas de países emergentes investem no exterior dez vezes mais do que faziam em 1990, com um estoque total de US$ 1,4 trilhão. Em 1990, apenas 19 empresas de emergentes estavam na Lista Fortune das 500 maiores companhias mundiais. Hoje, são 47.

A estratégia de muitas delas é a internacionalização para sobreviver à concorrência, seja no setor de mineração, serviços ou tecnologia. Para outras, investir no exterior é a forma de abastecer seu mercado com commodities ou energia, como no caso da China.

No total, a ONU calcula que essas empresas investiram US$ 120 bilhões no mundo em 2005, um recorde. Em vendas, somam US$ 1,9 trilhão. Das 100 primeiras companhias, porém, 77 delas são da Ásia.

Não por acaso, as cinco primeiras do ranking também são asiáticas: Hutchison Whampoa de Hong Kong, com US$ 67 bilhões em ativos, seguida pela Petronas da Malásia, Singtel de Cingapura, a coreana Samsung e a Citic da China. Essas empresas ainda estão longe das líderes dos países ricos, como a americana General Electric, com US$ 448 bilhões em ativos no exterior, seguida pela britânica Vodafone, as americanas Ford e General Motors.

Mesmo assim, o que surpreende a ONU é a rapidez com que as empresas asiáticas ganharam força. Hoje elas respondem por 55% dos investimentos de multinacionais de países emergentes. A predominância das asiáticas ocorre graças à potência do setor chinês, com 70 empresas entre as 100 maiores dos países emergentes.

A primeira latino-americana no ranking é a Cemex, do setor de construção no México, com US$ 13 bilhões no exterior e na sexta colocação geral. Para a ONU, trata-se da única multinacional latino-americana de fato. A Petróleos de Venezuela está no 9º lugar (PDVSA), com US$ 8,8 bilhões. A Petrobrás vem na 12ª colocação, com US$ 6,2 bilhões. As outras brasileiras são a Vale do Rio Doce, com US$ 4 bilhões, na 25ª posição, e a Gerdau na 33ª, com US$ 3,3 bilhões. O relatório destaca a Embraer como a única latino-americana em tecnologia de ponta, mas sem volume de investimentos para entrar no ranking.

No total, a América Latina investiu US$ 33 bilhões no exterior em 2005, 19% a mais que em 2004. Mas ainda metade do que foi investido pela Ásia. Desse total, US$ 14 bilhões ainda foram apenas para paraísos fiscais. O líder no ano passado foi o México, com US$ 6,2 bilhões, seguido pela Colômbia com US$ 4,6 bilhões e pelo Brasil, com US$ 2,5 bilhões.