Título: ONU faz alerta para restrições da Bolívia e da Venezuela
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Economia, p. B1

Em seu relatório anual sobre investimentos, a ONU alerta que medidas adotadas por governos latino-americanos nos últimos meses vão contribuir para frear o fluxo de investimentos estrangeiros aos países da região em 2006 e, eventualmente, em 2007. As Nações Unidas destacam, acima de tudo, as medidas tomadas pelos governos da Bolívia e da Venezuela no setor de gás e petróleo como exemplos de ações que podem dar sinal negativo os investidores.

Nos países da América do Sul, o aumento de investimentos em 2005 foi de 20%, principalmente graças ao crescimento econômico da região, que coincidiu com uma expansão da economia mundial. Nesse período, os investimentos na Colômbia aumentaram 227%, 95% na Venezuela, 81% no Uruguai, 65% no Equador, 61% no Peru e 9% na Argentina. O que a ONU alerta é que novas leis restringindo a entrada de investimentos podem frear essa tendência.

Em maio, o governo de La Paz tomou a decisão de nacionalizar suas jazidas de gás natural. Enquanto isso, a Venezuela aumentou o controle estatal sobre a PDVSA e iniciou uma renegociação de concessões.

A ONU admite que mudanças nas atitudes dos governos latino-americanos ocorreram porque o crescimento econômico até o início desta década não se traduziu em ganhos para a população ou em combate à pobreza. As estratégias mais intervencionistas ainda foram facilitadas por uma alta nos preços das commodities e balanças comerciais favoráveis.

Com o aumento dos preços, principalmente de petróleo e gás, muitos governos se sentiram fortalecidos para barganhar melhores contratos com as empresas estrangeiras e rever acordos da década de 90.

Segundo a ONU, o fato de estar menos dependentes do capital estrangeiro criou a sensação em alguns governos de que poderiam endurecer os regimes de investimentos e ter um papel mais ativo na economia.

Na Venezuela, além da recuperação de 32 áreas de exploração de petróleo que estavam em mãos privadas, o governo criou uma estatal para refinar açúcar e empresas em outras áreas.

Mas, de acordo com analistas da ONU, a situação pode ter efeito negativo e criar incertezas entre investidores. Para 2006, a previsão é de queda no fluxo para toda a região. No primeiro semestre, caiu 19% o valor de aquisição de ativos de empresas locais, comparado com mesmo período de 2006.

Além disso, as diferenças entre os países da região por causa dessas novas condições estão afetando não apenas empresas espanholas ou americanas, mas companhias brasileiras, como a Petrobrás.