Título: Congresso é balcão de negócios, admitem deputados
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2006, Nacional, p. A5

Deputados da CPI dos Sanguessugas concordaram em parte com a declaração de Darci Vedoin - o dono da Planam responsável pelo esquema de venda de ambulâncias superfaturadas com o dinheiro do orçamento - de que o "Congresso é um grande balcão de negócios". A afirmação foi feita em entrevista ao Estado publicada ontem.

Eles alertam, no entanto, que uma fiscalização severa da execução orçamentária e mudanças que a CPI pode propor acabarão com as facilidades do parlamentar que pretende levar vantagens e comercializar suas emendas orçamentárias.

"De fato o Congresso é um balcão de negócios", afirmou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos sub-relatores da CPI. "É um balcão grosseiro que uma boa investigação pode esmagar", continuou.

Gabeira ressaltou que o acompanhamento dos gastos do orçamento já é mais transparente e a idéia é também criar um sistema para que empresários chantageados por parlamentares tenham um canal seguro para denúncia. "Acabou a zorra. Quem pretende entrar no Congresso em busca de negócios terá uma péssima idéia."

Para o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o empresário exagera no tom. "Ele não pode generalizar. Ele mesmo sabe com quem ele poderia atuar e que não poderia agir da mesma maneira com outros. Ele sabe quem dá brechas para que o negócio possa acontecer."

Delgado, integrante da CPI, defende o fim da possibilidade de apresentação de emendas individuais ou de bancadas ao Orçamento da União. Para ele, as emendas devem ser debatidas pelas comissões temáticas da Câmara e do Senado. "Vedoin exagera, mas não deixo de dar razão a ele porque a apresentação de emendas possibilita essa situação", disse Delgado. "Na forma atual, mesmo quando a emenda é lícita, o deputado ao destinar recurso para o município espera, em contrapartida, o apoio político do prefeito."

Os presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), evitaram comentar a declaração. "Ficar batendo boca com esse tipo de gente não é recomendável", afirmou Renan. A assessoria de Aldo disse que o presidente da Câmara não irá responder a um criminoso confesso que está solto por causa do programa de delação premiada. A resposta de Aldo, segundo sua assessoria, é acelerar o processo de punição dos acusados. Amanhã, ele reúne a Mesa da Câmara para modificar os prazos de defesa dos 69 deputados acusados pela CPI.

O líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), considerou que o Legislativo já está agindo. "Ele (Vedoin) tenta atacar o Congresso para amenizar os erros dele. A instituição é maior do que todos nós e já começou a dar sua resposta com a CPI", afirmou Maia.