Título: Guerra interna palestina mata 8
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Internacional, p. A4

A crise política palestina agravou-se ontem com confrontos na Faixa de Gaza entre as forças de segurança do governo da Autoridade Palestina (AP) - controladas pelo grupo islâmico Hamas - e as da presidência, comandadas pelo partido laico Fatah. Oito pessoas morreram, incluindo um menino e outros dois civis, e 80 ficaram feridas. Um membro da guarda presidencial do presidente da AP, Mahmud Abbas, foi morto.

Essa foi a maior irrupção de violência na região desde que o Hamas venceu as eleições parlamentares da AP, em 25 de janeiro. O estopim do confronto foi uma manifestação de policiais, em Gaza, pedindo o pagamento de seus salários atrasados desde março. O ministro do Interior, Said Seyam, do gabinete de governo do Hamas, mandou suas forças de segurança para as ruas, para evitar distúrbios. Em resposta, a polícia palestina, leal ao Fatah, bloqueou ruas na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, e trocou tiros com o contingente enviado por Seyam para coibir os protestos.

Em outro incidente grave, a milícia do Hamas invadiu a casa de um líder da segurança da presidência da AP e prendeu cinco guarda-costas. Houve ainda choques entre as duas facções num hospital de Gaza onde os feridos eram medicados. Como resultado, mais cinco pessoas ficaram feridas. Os enfrentamentos também se estenderam para a Cisjordânia (ler quadro).

Abbas ordenou uma investigação sobre a violência e declarou à TV árabe Al-Jazira, do Catar, que está pronto para negociar um governo de coalizão com o Hamas para 'evitar a guerra civil'. 'Pessoalmente, acredito que a guerra civil seja uma linha vermelha e não vou permitir isso em nenhuma circunstância', disse Abbas. O primeiro-ministro Ismail Haniye, do Hamas, fez um apelo por calma enquanto o Ministério do Interior ordenava a retirada de suas forças das ruas de Gaza.

Desde a posse do Hamas no governo, em março, os 165 mil funcionários públicos estão com os salários atrasados porque a União Européia (UE) e os EUA bloquearam a ajuda de centenas de milhões de dólares à Autoridade Palestina. Israel também deixou de repassar mensalmente cerca US$ 50 milhões em impostos cobrados de produtos importados pelos palestinos. A UE, os EUA e Israel se recusam a negociar com o Hamas enquanto o grupo não reconhecer a existência de Israel, aceitar os acordos de paz de Oslo e renunciar à luta armada.

Desde a criação da Autoridade Palestina, em 1995, a administração dos territórios autônomos estava totalmente em mãos do Fatah. A vitória dos islâmicos em janeiro desencadeou uma feroz disputa pelo poder entre o Hamas e o Fatah.

Abbas e Haniye tentam há semanas chegar a um acordo para formar o governo de coalizão ao mesmo tempo que um tenta minar o poder do outro. O objetivo do gabinete unificado seria permitir a retomada da ajuda externa de que o governo necessita para pagar os salários dos funcionários e manter os serviços básicos. O impasse está principalmente no fato de o Hamas se recusar a aceitar as condições impostas pela UE, Israel e EUA.