Título: Uribe admite reunião com Farc
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2006, Internacional, p. A18

Em meio a uma série de declarações que indicam forte distensão entre o governo da Colômbia e a guerrilha esquerdista, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, se disse ontem disposto a reunir-se pessoalmente com os líderes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Jurado de morte pelas Farc desde o dia de sua posse na presidência, em 2002, Uribe sempre defendeu a linha dura contra a guerrilha. 'Se isso for necessário para que cheguemos à paz, para dar um passo fundamental rumo à paz, estou disposto a fazê-lo', disse Uribe a Rádio Caracol.

Na semana passada, Uribe concordou em desmilitarizar as áreas dos municípios de Florida e Pradera - 800 km2 no sul do país - para que abriguem negociações sobre a troca de 59 reféns das Farc por 500 guerrilheiros presos. Entre os reféns da guerrilha estão a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, três cidadãos americanos e dezenas de políticos, policiais e militares.

As Farc aceitaram, em princípio, a oferta de Uribe no fim de semana e lançaram uma nova proposta: sob algumas condições, entre as quais a desmilitarização de quase 114 mil km2 nos Departamentos de Caquetá e Putumayo (sul do país), os rebeldes concordariam com um cessar-fogo e a subseqüente abertura de negociações para um acordo de paz definitivo.

Na segunda-feira, Uribe pediu ao encarregado de assuntos de paz do governo, Luis Carlos Restrepo, para que inicie as consultas para a retirada militar dos dois municípios por, no máximo, 45 dias, no primeiro passo efetivo trocar os prisioneiros.

Fontes militares colombianas consultadas pelo Estado, no entanto, indicaram uma certa decepção nos quartéis com a mudança de posição de Uribe em relação às Farc. 'Não há como confiar em terroristas e assassinos', disse, por telefone, um desses oficiais da ativa. Segundo ele, as Farc fazem concessões porque o Exército as debilitou militarmente.

Outro problema para a troca de prisioneiros é que um grupo de 20 guerrilheiros presos das Farc simplesmente não quer ser libertado. 'Nossa posição é a de que não queremos voltar para a guerra', disse o porta-voz do grupo, identificado como Olivo Saldaña.