Título: Marco Aurélio pede que eleitor deixe 'faz-de-conta'
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2006, Nacional, p. A6

Enquanto o Poder Judiciário não tomar uma decisão definitiva sobre os candidatos envolvidos em escândalos, como os mensaleiros e os sanguessugas, caberá ao eleitor agir contra os políticos corruptos que tentarão se reeleger em outubro. A exortação foi feita na noite de ontem, em pronunciamento oficial, pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello.

"No dia 1º de outubro, quem tem de agir e abandonar o faz-de-conta é o eleitor", afirmou Marco Aurélio, que também é ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), durante o pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão. "Não se omita nem desanime." O ministro informou que eventuais contestações de candidaturas de políticos suspeitos de corrupção serão analisadas caso a caso pela Justiça Eleitoral.

No pronunciamento, feito propositalmente na véspera do início da veiculação do horário eleitoral gratuito, o presidente do TSE conclamou os eleitores a votarem de forma consciente e a se preocuparem com as conseqüências do voto. "É hora de prestar atenção no que dizem (os candidatos) e como se comportam, no que fizeram no passado e, principalmente, de saber se essas pessoas são de fato pessoas corretas e cumpridoras dos deveres", alertou Marco Aurélio, lembrando que as conseqüências do voto são "duradouras" e repercutem "no desempenho das instituições". E acrescentou: "Quem não obedece à lei não merece respeito e muito menos o seu."

CHEFE DOS POLÍTICOS

Didático, ele explicou que a escolha do presidente, dos governadores e dos parlamentares tem reflexos no cotidiano da sociedade. "Isso refletirá diretamente no nosso dia-a-dia: no preço dos alimentos, na qualidade do ensino, nos investimentos na área da saúde, da habitação, dos transportes, da segurança, na taxa de juros, no valor dos impostos, em tudo."

Marco Aurélio pediu também aos eleitores que se comportem como senhores do destino do País. "Dias tranqüilos", afirmou, "pressupõem a escolha consciente, a escolha dos melhores". Antes de lembrar que o Brasil será "o resultado do voto" do eleitor, o presidente do TSE pediu que o "cidadão brasileiro" se comporte como "chefe" dos políticos a eleger.

"Você será o patrão, o chefe. Você selecionará, entre tantos candidatos, aqueles que considerar os mais dignos, os mais bem preparados para conduzir a Nação nos próximos anos", disse. "Lembre-se, caro eleitor: nenhum deles será nomeado e sim eleito, escolhido diretamente pelo voto de cada um dos quase 126 milhões de eleitores do País."

O presidente do TSE afirmou que os eleitores têm de prestar muita atenção no momento atual. "Observe a situação de hoje a exigir de todos nós muita responsabilidade. Sim, devemos exercer a cidadania com os olhos voltados à preocupação com o bem-estar geral, com o patrimônio público. O poder é do povo, que o transfere a homens cujo único interesse, nessa caminhada, deve ser o de bem servir."

Marco Aurélio afirmou que os eleitores devem aproveitar a propaganda eleitoral para conhecer os políticos: "É hora de nos prepararmos para a verdadeira revolução, que é a revolução pelo voto." A crítica do ministro ao "país do faz-de-conta" tornou-se recorrente desde que ele assumiu a presidência do TSE, em maio passado.

Na posse, em um discurso contundente, afirmou: "Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país de faz-de-conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam - o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mau tivessem feito."

estadao.com.br Veja o pronunciamento completo no site www.estadao.com.br

(SERVIÇO)NÚMEROS

125,91 milhões é o número de eleitores do País

54,94 milhões são da Região Sudeste

34,13 milhões votam na Região Nordeste

19,04 milhões se localizam na Região Sul

8,89 milhões estão no Centro-Oeste

8,81 milhões votam na Região Norte