Título: Chefe de inteligência renuncia em Seul
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2006, Internacional, p. A26

O chefe do serviço secreto sul-coreano, Kim Seung-kyu, renunciou ontem, tornando-se o terceiro funcionário de alto escalão a pedir demissão desde que a Coréia do Norte testou uma bomba nuclear no dia 9. O ministro da Defesa, Yoon Kwang-ung, renunciou na segunda-feira e no dia seguinte o ministro da Unificação, Lee Jong-seok, também pediu demissão dizendo que ele era responsável pelo teste nuclear, pois era o encarregado pelas questões norte-coreanas.

Uma reforma ministerial já era esperada desde que o chanceler, Ban Ki-moon, foi escolhido como o próximo secretário-geral da ONU. Ele deve deixar o cargo no próximo mês. Mas as renúncias desta semana significarão uma mudança completa da equipe responsável pelas relações com a Coréia do Norte.

Os EUA e grupos de oposição sul-coreanos consideram um fracasso a política de conciliação com a Coréia do Norte por não ter conseguido que o regime comunista desistisse de suas aspirações nucleares. Suspeita-se até mesmo que Pyongyang pode ter desviado para seu programa nuclear o dinheiro desembolsado por Seul para os projetos conjuntos.

Documentos liberados pelo governo americano e divulgados ontem revelaram que uma equipe de especialistas contratada pela CIA concluiu em 1997 que a economia da Coréia do Norte estava tão deteriorada que o governo do ditador Kim Jong-il poderia cair em cinco anos. A economia norte-coreana se estabilizou nos últimos anos, em parte graças à ajuda humanitária, especialmente da China e da Coréia do Sul. A idéia de um breve colapso do regime norte-coreano também ajudou na criação do acordo de 1994, quando os EUA prometeram fornecer à Coréia do Norte dois reatores nucleares de água leve até 2003. A promessa nunca foi cumprida.

O chanceler sul-coreano reuniu-se ontem em Pequim com os líderes chineses para discutir meios de aplicar as sanções da ONU impostas após o teste nuclear e fazer com que a Coréia do Norte volte às conversações sobre seu programa atômico. A China rejeita atender à resolução sobre interceptação e inspeção de cargueiros que partem da Coréia do Norte ou que chegam ao país. A China e a Coréia do Sul temem que essas interceptações levem a um confronto e ao aumento da crise.

Apesar de a China garantir que inspecionará os caminhões que cruzam para a Coréia do Norte, caminhoneiros que passam pela fronteira do Rio Tumen dizem que não houve nenhuma mudança nas inspeções do lado chinês. A alfândega raramente abre caixas lá ou nas outras duas passagens na região montanhosa, dizem os caminhoneiros e as transportadoras.