Título: Stédile: 'Lula, não nos tome como compadres'
Autor: Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2006, Nacional, p. A5

João Pedro Stédile, um dos coordenadores do Movimento dos Sem-Terra (MST), disse ontem que os representantes de movimentos sociais que participarão de um encontro com Luiz Inácio Lula da Silva, na próxima semana, vão cobrar do presidente o cumprimento das promessas de campanha. 'Atenção, Lula, não nos tome como compadres', avisou Stédile.

O encontro entre o presidente e a Coordenação de Movimentos Sociais (CMS), que reúne entidades como o MST, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), está previsto para o dia 6, em Brasília. 'O povo precisa de mudanças que garantam aumento do salário mínimo, aumento dos salários em geral, distribuição de terra e garantia de emprego. Nós estamos unidos a favor disso e vamos pressionar para isso', disse Stédile.

O líder do MST voltou a fazer duras críticas ao governo petista em relação à reforma agrária. Questionado sobre a ação dos sem-terra no porto de Maceió, em Alagoas, disse que o movimento está na verdade cobrando 'faturas antigas, que já venceram há dois, três, quatro anos'. 'O governo tinha se comprometido e assinado no Plano Nacional de Reforma Agrária assentar 420 mil famílias em quatro anos. Até agora, assentou mal e porcamente em torno de umas 150 mil. Está na hora de eles criarem vergonha. A nossa paciência tem limite.'

Stédile disse que a reforma agrária - que 'está parada' - é um instrumento para a real distribuição de renda no País. 'Ou seja, distribuir terra de forma massiva, para 500 mil, 660 mil, um milhão de famílias.'

Outras 'armas' para a melhor distribuição da renda nacional, afirmou, são investimentos significativos em educação e uma política salarial mais ousada. 'Vamos lá dizer para o presidente que nós estamos de acordo que é preciso ter desenvolvimento com distribuição de renda, já que ele tem reafirmado essa tese. Mas é impossível você distribuir renda no Brasil se você não tirar de alguém', afirmou. 'É preciso mudar a política econômica para penalizar o capital financeiro.'

FORÇAS

Em visita a Belo Horizonte, onde participaria de um seminário promovido pelo Sindicato dos Eletricitários do Estado, Stédile pregou a unidade das 'forças populares' do País durante o segundo mandato de Lula.

Stédile concedeu entrevista ao lado de um representante da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) em Minas e do ex-presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Marcelo Resende, representando a Associação Brasileira pela Reforma Agrária. Eles anunciaram uma série de atividades conjuntas em 2007, entre elas uma grande mobilização pela reestatização da Companhia Vale do Rio Doce. 'Vamos preparar um plebiscito', disse Stédile.