Título: Acordo adia reajuste de gás boliviano
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2006, Economia, p. B3

A Petrobrás conseguiu evitar, por quatro meses, reajuste extraordinário no preço do gás boliviano, ao se comprometer com a estatal local YPFB a avaliar novos investimentos no país. Para observadores locais, o acordo fechado na quarta-feira foi bom para ambas as partes e reduziu a pressão sobre os negociadores das empresas.

A reaproximação, dizem os entrevistados, é fruto de uma melhoria nas relações entre as petroleiras e o governo local após a assinatura dos contratos de exploração e produção.

A prorrogação, em 120 dias, das negociações sobre o preço do gás, porém, não significa que o preço do gás boliviano ficará congelado no período. Para o produto continuará seguindo a fórmula de reajustes prevista em contrato, com variações trimestrais baseadas no comportamento das cotações internacionais do petróleo e derivados. Projeção preliminar aponta que no fim de dezembro, data do próximo ajuste, o gás importado pelo Brasil deve registrar, inclusive, pequena queda.

'Petrobrás e YPFB estão dando mais tempo porque não foi possível chegar a um acordo até agora', afirma Carlos Miranda, que foi superintendente dos Hidrocarburos (órgão correlato à ANP) no governo Carlos Mesa, em 2001. Especialistas acreditam que a decisão foi boa para ambas as partes. Para a Bolívia, porque pode voltar a discutir o assunto em um momento de alta de preços no mercado internacional, com a proximidade do inverno no hemisfério norte. Já a Petrobrás poderá manter o clima de cordialidade, necessário enquanto discute com La Paz a questão das refinarias, na qual precisa conseguir um preço justo para a transferência à YPFB.

'Era de se esperar (uma reaproximação), porque o problema dos contratos, que era o mais complexo, já está resolvido', destaca Miranda.

Mesma opinião tem Youssef Akly, gerente-geral da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos, que reúne as companhias estrangeiras. 'O processo de negociações não foi fácil, mas pôde-se chegar a um consenso onde o retorno dos investimentos está bem definido', aponta Akly. Ele lembra que Repsol e Total já anunciaram a retomada de projetos.

Os dois especialistas lembram que o contrato em setembro de fornecimento de 27,7 milhões de metrôs cúbicos de gás natural à Argentina foi fundamental nesse processo. Os contratos de exploração e produção assinados em outubro garantem maior rentabilidade a investimentos novos. A tabela que define as receitas da YPFB privilegia, nos primeiros anos, o retorno do investimento feito pela companhia privada.

Mesmo com o aumento da participação governamental, destaca Miranda, as companhias mantiveram um nível de receita equivalente ao período em que chegaram ao país. 'Se antes as empresas tinham 60% de US$ 2, a cada milhão de BTU, hoje têm 25% de US$ 4 ou US$ 5', calcula.