Título: Guerra no Iraque agravou ameaça terrorista, diz espionagem dos EUA
Autor: Mazzetti, Mark
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2006, Internacional, p. A10

Uma avaliação confidencial feita pelas agências de inteligência americanas sobre as tendências do terrorismo conclui que a invasão e ocupação do Iraque por tropas comandadas pelos EUA ajudou a disseminar o radicalismo islâmico e que a ameaça terrorista cresceu desde os atentados de 11 de setembro de 2001. O documento, intitulado ¿Tendências no Terrorismo Global: Implicações para os Estados Unidos¿, é a primeira avaliação com essa abrangência preparada pelos órgãos de inteligência dos EUA desde o início da guerra no Iraque, em 2003, e representa a visão de 16 serviços de espionagem diferentes dentro do governo.

De acordo com funcionários do alto escalão de Washington, que participaram da avaliação ou leram o documento final - e falaram sob condição de anonimato ao New York Times -, ele diz de forma direta que a guerra no Iraque fomentou o radicalismo, ao contrário do que afirmam relatórios recentes da Casa Branca. Esses funcionários falaram de algumas das conclusões gerais do documento, mas não dos detalhes, que continuam sendo confidenciais. Aqueles que conhecem a avaliação do serviço de informações disseram que o documento evita julgamentos específicos sobre a probabilidade de os terroristas atacarem mais uma vez em solo americano.

Concluída em abril, a avaliação afirma que o movimento radical islâmico se expandiu a partir de um núcleo de agentes da Al-Qaeda e grupos associados. Com o tempo, segundo o relatório, ele passou a incluir células ¿autogeradas¿ inspiradas pela Al-Qaeda, mas sem ligação direta com Osama bin Laden e seus principais comandados. O documento também assinala que a internet tem ajudado a disseminar a ideologia jihadista e o ciberespaço se converteu em abrigo para terroristas que não têm mais refúgio em países como o Afeganistão.

Uma seção de abertura do relatório, intitulada ¿Indicadores da Disseminação do Movimento Jihadista Global¿, cita a guerra no Iraque como o motivo para a difusão da ideologia da guerra santa. O texto ¿diz que a guerra no Iraque agravou o problema do terrorismo em geral¿, afirmou um funcionário do alto escalão do serviço de informações.

A relação entre a guerra do Iraque e o terrorismo e a questão de se os EUA estão mais seguros têm sido objetos de persistentes debates desde que a guerra começou. A avaliação confirma algumas previsões de um relatório do Conselho Nacional de Informações concluído em janeiro de 2003, dois meses antes da invasão do Iraque. Segundo aquele relatório, a guerra iminente poderia aumentar o apoio ao islamismo político no mundo inteiro e a alguns objetivos terroristas.

Documentos emitidos pela Casa Branca para coincidir com o quinto aniversário do 11/9 enfatizam os sucessos que os EUA têm obtido em desmantelar a camada hierárquica superior da Al-Qaeda. ¿Desde os atentados de 11/9, os EUA e seus aliados estão mais seguros, mas nós não estamos seguros ainda¿, conclui um relatório da Casa Branca. ¿Fizemos muito para deteriorar a Al-Qaeda e seus associados.¿ Esse documento cita só de passagem o impacto que a guerra no Iraque tem tido sobre o movimento global da guerra santa, ao mencionar a possibilidade de que militantes islâmicos que lutaram no país possam retornar a suas nações de origem, ¿exacerbando conflitos domésticos ou fomentando ideologias radicais¿.

Na quarta-feira, o Comitê do Serviço de Informações da Câmara, que é controlado pelos republicanos, emitiu um relatório que detalha um crescente movimento da guerra santa islâmica e diz que ¿líderes da Al-Qaeda esperam pacientemente pela oportunidade certa para atacar¿.