Título: Autorizada canonização de Frei Galvão
Autor: Lopes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/12/2006, Vida&, p. A16

Um milagre ocorrido em 1999, em São Paulo, vai tornar o franciscano Antônio de Sant¿Ana Galvão (1739-1822), frei Galvão, o primeiro santo brasileiro. No sábado à tarde, a Congregação para a Causa dos Santos, do Vaticano, deu o último aval para a canonização. Em 1998, a Santa Sé já havia reconhecido o primeiro milagre de frei Galvão, necessário para sua beatificação.

¿Agora só falta uma parte burocrática, mas fundamental para sabermos a data da canonização, que é o papa assinar o documento aprovado pelo Vaticano¿, explica padre Armênio Rodrigues Nogueira, capelão do Mosteiro da Luz, em São Paulo, que foi fundado pelo frei em 1774. Uma das possibilidades é que o papa assine o documento em maio, quando estiver no Brasil. Outra, é que isso seja feito nos próximos dias para a cerimônia de canonização ser celebrada no País.

O segundo milagre só pode ser divulgado após a assinatura do decreto. A irmã Célia Cadorin, postuladora da causa (advogada do beato junto ao Vaticano), porém, adianta detalhes, além da data e da cidade do acontecimento. ¿O milagre do frei é referente a uma gestação complicada, depressão ou doença de criança¿, conta. ¿Envolveu muitos médicos e `provavelmente¿ ocorreu num hospital.¿

O processo de seleção do milagre durou seis anos - de outubro de 1998 a outubro de 2004. Durante esse tempo, irmã Célia analisou 5.643 graças registradas no Mosteiro da Luz. Dessas, 3.520 eram relacionadas a curas. A maioria dos restabelecimentos envolviam gestações complicadas, problemas para engravidar e doenças renais. O milagre atribuído a frei Galvão foi registrado no Mosteiro da Luz em 2004.

¿Foi uma seleção difícil¿, conta irmã Célia. ¿Ficamos, eu e uma equipe médica, entre cem graças. Em 2004, quando fui para Roma acompanhar o processo de perto, tínhamos ainda quatro bons milagres em mãos.¿ A decisão final ficou sob a responsabilidade de uma equipe médica do Vaticano.

Em Guaratinguetá, interior de São Paulo, onde frei Galvão nasceu, os devotos vão comemorar no dia 23 de dezembro com uma missa em ação de graças pelo reconhecimento, na catedral da cidade. Uma das mais empenhadas é a historiadora Maria Isbella Fabiano, de 82 anos, sobrinha em sexto grau do frei. ¿É uma honra estar viva para receber a notícia da canonização do meu familiar¿, diz ela, que mantém um altar em homenagem ao santo há 15 anos.

Frei Galvão é conhecido pelas chamadas pílulas, distribuídas gratuitamente. Fabricadas por voluntárias da Irmandade de Frei Galvão e por freiras da Ordem da Imaculada Conceição que vivem enclausuradas, são pedacinhos de papel com a frase que teria sido escrita por ele: ¿Depois do parto, permanecestes Virgem, Mãe de Deus, intercedei por nós¿.

Sua beatificação ocorreu em 1998. O processo (veja ao lado) durou décadas. Na época, o Vaticano reconheceu a cura de uma menina de 4 anos. Desenganada pelos médicos por sofrer de um quadro crônico de hepatite B, ela teria sido curada um dia após seus familiares terem apelado ao frade.

O PROCESSO

Beatificação: quando o Vaticano reconhece um milagre. O beato só pode ser cultuado na sua paróquia ou na congregação religiosa. Padre Anchieta, frei Galvão, padre Eustáquio, padre Mariano e 30 mártires no Rio Grande do Norte são os beatos que viveram no País

Canonização: quando são reconhecidos dois milagres. O santo pode ser cultuado em qualquer igreja. Madre Paulina é a única santa que viveu no Brasil

Provas: para ser milagre, a graça primeiro tem de ser reconhecida por uma equipe médica (local e do Vaticano). Os médicos têm de descartar a possibilidade de cura pela ciência. O caso deve ser grave e o restabelecimento (depois das orações para o santo) rápido. O processo se baseia também em testemunhos de pessoas que conviveram com o candidato a santo.