Título: Ameaça de divisão vira apoio à governabilidade
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2006, Nacional, p. A4

Sem nenhuma possibilidade de reação diante do peso do PMDB governista e da influência do Palácio do Planalto sobre lideranças importantes do partido, os três governadores eleitos que ameaçaram uma dissidência capitularam. Depois de mais de quatro horas de uma reunião em que fizeram cálculos e buscaram uma saída política honrosa, eles decidiram declarar apoio à governabilidade e ajudar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso.

Numa nota redigida às pressas pelo governador reeleito de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, e corrigida pelo governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (não reeleito), os ex-quase oposicionistas fizeram um texto em que procuram, ao mesmo tempo, mostrar que ficarão ao lado de Lula, mas que farão algumas exigências.

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), presidiu a reunião. Na quarta-feira ele terá encontro com Lula. Vai levar a posição da ala que tentou fazer a reunião dos sete governadores, mas que só conseguiu reunir três: Luiz Henrique, Roberto Requião (PR) e André Puccinelli (MS). Boicotaram o encontro os governadores eleitos Paulo Hartung (ES), Sérgio Cabral (RJ), Marcelo Miranda (TO) e Eduardo Braga (AM).

A constatação dos presentes foi de que, mais do que a pressão exercida pelo Planalto sobre os governadores para que eles não participassem da reunião, dentro do PMDB há o desejo de que o partido integre a base de sustentação do governo federal no Congresso. Esse comunicado foi feito por Temer. Ele relatou aos presentes que não vê mais sentido em manter o partido rachado quando, conseguindo a unidade, pode fazê-lo crescer. Os outros concordaram. No fundo, de independentes mesmo só havia na reunião Luiz Henrique e Puccinelli, porque Roberto Requião apoiou Lula na campanha eleitoral.

Os três governadores e o presidente do partido buscaram uma saída que mostre ser institucional a relação entre o PMDB e o governo de Lula e não uma disputa desenfreada por cargos e privilégios. De acordo com os presentes, o PMDB quer dar apoio à governabilidade em troca de crescimento econômico, reforma política e tributária já no ano que vem, um novo pacto federativo que inclua, por exemplo, a renegociação das dívidas dos governos estaduais com a União e maior distribuição de renda. Enfim, tudo o que qualquer partido, de qualquer tendência ideológica, poderia querer.

SEM PALAVRA

Antes do início da reunião, os ânimos estavam acirrados. Luiz Henrique acusou seus colegas que boicotaram a reunião de não terem palavra. 'Eu só comuniquei que faria a reunião porque eles anunciaram que viriam. São governadores e não souberam honrar a palavra.'

André Puccinelli também estava nervoso. Disse que Mato Grosso do Sul terá dificuldades administrativas por causa do pagamento da dívida. Afirmou que gostaria de ter com o governo federal uma relação de cooperação e jamais de adesão. 'Quem aderiu foi o José Sarney, porque precisou agir assim para dar emprego para sua filha no governo federal', disse, referindo-se à sinalização do Planalto de que Roseana Sarney terá cargo no ministério.

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